Exterior da Casa

Senti o frio do objecto contra a minha pele e fechei os olhos. Tentei respirar, mas simplesmente não consegui. - Não.. e nem és tu que me vais fazer com que a largue ou impedir do que quer que seja..

Naquele momento estavam todos fixados em nós os três. Ninguém parecia alerta para o facto de os meus lobos estarem a fazer um cerco. Dei um passo em frente - Pode crer que vou - Avancem. E num movimento rápido dei um murro ao tio de Alina, fazendo-o larga-a, antes que os outros caçadores tivessem tempo de reagir.

Fora tudo muito rápido, que não tive tempo sequer de reagir. Quando dei por mim, já havia uma algazarra enorme. Comecei a correr o mais rápido que aquela barriga me permitiu até à casa, até perceber que uns quantos caçadores me seguiam. Tentei apressar o passo. Por sorte, um lobo qualquer, meteu-se à frente deles e atirou-os para bem longe. Mesmo assim, continuei a correr, até finalmente entrar dentro de casa e me trancar nela.

Parecia que estava num espaço diferente onde apenas eu e o tio de Alina existia. Cada golpe que eu dava era respondido com outro a altura. Porém era apenas aquele homem que sabia lutar pois eu podia ouvir o grito dos outros humanos, depressa paralisados pelos meus quatro lobos.
Dei um murro no estômago do homem mas este sacou da sua arma, apontando-a para mim. Enquanto isso dois outros caçadores agarram-me por trá

Apesar de estar lá dentro, todos os gritos que cada pessoa dava, era mais que audível. Encostei-me à porta de entrada e fechei os olhos, tapando as mãos com os meus ouvidos. Atrevi-me a olhar pela fechadura e visualizar o meu tio a apontar uma arma para Drake. Engoli em seco.. Não, não..

Por momentos pensei que aquilo fosse o fim. Bastaria uma bala de prata no meu coração e estava acabado. Ninguém se importaria, ninguém quereria saber. Que belos últimos pensamentos tinha eu. Olhei uma última vez para a fachada da casa. Esforçando-me, consegui ouvir o bater do coração da pequenina. Sorri e nesse preciso momento a bala foi disparada, dando-me pouco tempo para ver se me safava.

Fechei os olhos e abracei-me à minha barriga. O meu corpo começou a tremer, estava aterrorizada e não tinha coragem de olhar novamente pela fechadura. Engoli em seco. Não queria que nada daquilo estivesse a acontecer.

Desviara-me a tempo. Transformei-me em lobo e a bala passou rente ao meu braço. O jogo acabava ali. Rosnei e dei uma pancada em ambos os caçadores que me seguravam. Depois corri até ao tio e Alina e empurrei-o contra o chão com bastante força.

Os pontapés da bebé acalmaram minutos depois do som do tiro ter-se extinguindo. Tomei coragem e voltei a espreitei lá para fora. Engoli em seco e arregalei imenso os olhos. Só conseguia ver feridos, atrás de feridos. Jon acabara por ser enchutado contra a porta de casa e por um triz não me apanhara. Encostei-me à parede contrária e olhei para ele caído. Reparei no caçador que agora entrara em casa e muito rapidamente Lissa apareceu, acabando por desmembrá-lo. Fechei os olhos. Jon tentou levantar-se e quando conseguiu, ambos voltaram lá para fora. Gatinhei até à entrada e espreitei. O meu tio estava entre o chão e Drake e eu temia que Drake o matasse..

Aos poucos, os caçadores começavam a dispersar, percebendo que eu e o meu grupo de lobos éramos fortes. Já restavam muito poucas caçadores e aqueles que se atreveram a ajudar o tio de Alina, foram simplesmente chutados para longe. A raiva estava no top máximo.
- Seu rafeiro... meteste as patas na minha sobrinha, poluíste-a. Se nunca tivesses aparecido... vou-me vingar disto, seu cão - literalmente cuspiu as palavras e tirou uma navalha, pronto a atacar-me.

Eu não conseguia ouvir o que o meu tio dizia, apenas via a sua boca mexer. Olhei para ambos. Olhei para todos, em redor. Mordi o lábio com força, voltando a pousar os meus olhos naqueles dois.

A navalha veio parar ao meu dorso, fazendo-me ganir de dor e imobilizando-me por momentos. Durante esse tempo o homem conseguiu encontrar uma arma e apontá-la. Não podia deixá-lo matar-me. Saltei alto e aterrei em cima dele, esmagando a sua caixa tórácica, matando-o naquele instante.

Naquele momento entrei em choque total. As lágrimas vieram-me aos olhos e comecei a soluçar. Encostei-me à parede e aninhei ao meu corpo, deixando-me estar ali por uns momentos. Drake matara o meu tio. Matara o homem que cuidara de mim desde pequena. Que apesar de tudo, era sangue do meu sangue e só queria o meu bem, mesmo que fosse à maneira rígida dele. Levantei e comecei a caminhar lá para fora.

Não me sentia aliviado, nem vingado nem satisfeito. Matara um homem, mais uma vida. Odiava fazê-lo, mesmo que fosse para em casa de vida ou morte. Recuei um pouco e mantive-me em lobo. Havia alguns caçadores em redor que dispersaram rapidamente, mesmo sendo da família. Os feridos estavam a ser recolhidos e os mortos provavelmente sê-lo-iam depois. Dei meia volta, vendo Alina. Se pudesse, teria suspirado. Era desta que ela nunca mais me ia falar na vida.

Olhei para Drake. Eu sentia uma enorme raiva e um ódio grande por ele. Desejava com todas as forças, que tivesse sido ele a morrer. Cerrei os punhos. Avancei até ao meu tio e ajoelhei-me perto do meu dele. Ele estava morto, morto e mais morto. Chorei, chorei até não poder mais. Nada o faria trazer de volta, nada..

Afastei-me de tudo aquilo, da cena. Aproximei-me dos lobos, no alpendre. Jon era o único ferido com gravidade - Vamos levá-lo para dentro - Disse num tom algo preocupado, já em forma humana.

Olhei para a pistola com as balas de prata e peguei nela. Olhei o seu conteúdo. Estava cheia, carregada. Apertei-a com força, ao mesmo tempo que olhava para a figura do meu tio. Entretanto começara a chover. Oh, Drake ia pagá-las.. nem que eu tivesse que acabar com a sua patética alcateia um por um e especialmente com ele.

Larguei o meu tio, quando um dos meus primos chegou perto de mim. Reconfortou-me e com a ajuda de um outro caçador pegou no meu tio, levando para fora dali. Sentei-me no chão e visualizei-os a irem-se embora. Guardei o pequeno revolver na minha mala e levantei-me. Comecei a caminhar para fora dali.

Não sabia por quanto tempo mais ia conseguir manter-me acordado. Esperava apenas que tão cedo não fossemos interpelados por caçadores, poisa sabia que da próxima vez não viriam apenas uns cinco, mas sim uns quinze, quem sabe vinte e fariam de tudo para garantirem o seu objetivo. Não vou deixar isso acontecer. Cerrei os punhos.

Acabei por adormecer ali fora mesmo. Fora impossível manter-me acordado, especialmente depois de um dia difícil como este... apesar de ter sido o melhor dia da minha vida, o dia do nascimento do meu filho. Ainda parecia uma ilusão.

Lissa fazia de tudo para me lixar a cabeça. Parecia que só estava bem a chatiar-me. Fazia questão para que eu saísse da vida de Vane e desaparecesse de vez. Ela queria tomar conta do meu bebé, tomar o meu lugar de mãe. Acabámos por ir discutir até ao exterior da casa, até encontrar ali Drake e a dormir.

Estremeci e só depois acordei. Tinha os sentidos todos alerta mas afinal era apenas uma discussão. Bufei desagrado e levantei-me, mirando-as.

E ela continuava com a mesma lenga lenga. Tive que colocar as mãos nos meus ouvidos e abanei a cabeça. - Não estou a ouvir, não estou a ouvir.. - disse. Revirei os olhos.
- Como é que achas que podes cuidar de um bebé, se tu mesma, não passas de uma criança?! - eu não queria saber do que ela estava para ali a falar. - Encara a realidade e deixa o bebé ser tratado por quem sabe tratar.. - What the fuck?! Agora começava a ficar passada da cabeça.

Estaquei assim que percebi do que Lissa estava a falar. Quem era ela para dier aquelas coisas, mesmo que eu concordasse um bocadinho com ela? - Hey, esta discussão pára aqui. Lissa, não tens coisas para fazer? - Ela negou - Eu cá acho que tens, por isso vai. - ordenei.

Tanta discussão, tanto grito, tanto tudo aborrecido! Estava a ficar ligeiramente farta daquela conversa. - Mas.. mas.. - ela olhou para Drake. - Ela não sabe cuidar de um bebé, ela é louca! Não é bom tê-la cá. - virei-me para ela com um ar bastante.. zangado..
- Pois claro.. e quereres ser mãe e tudo mais do meu filho, já é bom? - revirei os olhos. Que patética..