Sala de Estar

- Bom, não morreria para vos fazer felizes mas se acontecesse, era isso que ia acontecer - respondi, mordendo o lábio. Com tanta gente a tentar matar-me, não demoraria muito tempo até eles conseguirem essa façanha.

Parei por uns momentos de cutucar o seu braço e puxei-lhe as bochechas. Ao mesmo tempo fazia caretas. - Sim, deve ser isso..

Já era tão óbvia a sua vontade que agora até falávamos disto! Mais valia Alina pegar numa estaca e pô-la logo no meu coração. Provavelmente não a impediria, estando eu neste estado - Quase que aposto que estás a pensar nisso agora, como te deliciarias com a minha morte.

Puxei-lhe com um pouco de mais força as suas bochechas. - Eu provávelmente até te quero ver morto, não sei. - e estava a falar a verdade. - Mas, acho que não..

- Já me podias ter morto há muito. Porque não o fazes? - Se pudesse, estaria a sorrir cinicamente. Pelo contrário, mantive imóvel, naquela mesma posição.

- Porque não. - respondi-lhe pura e simplesmente, sem saber bem como me explicar ou até mesmo dizer o porquê. - Não sei..

- Não tens coragem, é? Caramba, se me queres morto fá-lo já e poupa-me perder tempo - Disse, já zangado. Afinal os comprimidos sempre conseguiam mexer com as minhas emoções.

- Não é não ter coragem, seu rafeiro! É não querer mesmo.. - encolhi os ombros. E agora que pensava, estava a ter uma chance que muitos daria tudo para ter. - E depois o que achas que iria dizer à minha filha sobre ti? ''Ai, desculpa filha, mas eu matei o teu pai!'' Não né!. - abanei a cabeça.

Tinha sérias dúvidas daquilo. Desconfiava que ela não gostava de mim nem um bocadinho que não se importaria de ser ver livre de mim. Encolhi-me face à menção da bebé - Acho que dirias simplesmente que lhe dirias que o pai dela era o Jackson, como bem querias que fosse - respondi num tom amargo. Ainda me custava aceitar aquilo. Foi então que percebi que os medicamentos estavam a perder o efeito.

- É, secalhar até diria isso. - cocei o couro cabeludo. Mas sabia bem, que mais cedo ou mais tarde, aquela mentira ia acabar por cair. - Mas o Jackson disse que a bebé não gosta dele. Achas que ela acreditaria?! - encolhi os ombros. Eu cá tinha sérias dúvidas. - Hum.. por falar em pai, como esperarias tu, registar a bebé, sem eu saber que eras tu o pai?!

- Tencionava dizer-te, estive à beira de o fazer muitas vezes. Mas depois vinhas com a lengalenga do Jackson e acaba por não te contar. Por isso tinha em mente dizer-te antes do nascimento - respondi, começando-me a sentir zonzo.

Acho que se fosse ele próprio a contar-me, certamente não acreditava. Aliás, ainda me era difícil de acreditar. - Pois claro.. - suspirei. Só ainda não percebia o como aquilo tinha acontecido. Abanei a cabeça.

- Talvez não tivesse feito diferença. Para ti essa criança só tem um pai e não sou eu. Só não entendo é porquê que me deixaste ficar por perto. Compras a mobília, fazer o quarto, falarmos dos nomes. Porquê que fizeste tudo isto comigo quando obviamente me queres a milhas de distância? - Continuava sem entender isto.

- Porque eu via o quanto te empinhavas em fazer isso tudo e por um lado, gostava de ter alguém preocupado com a minha bebé, mesmo que não fosse quem eu realmente queria. - cruzei os braços ao peito. - Acho que por um lado começava-me a aperceber de tudo, mas sei lá..

- Pois, mas bastou saberes que era o pai verdadeiro que todo este meu empenho te pareceu abominável - respondi e tentei levantar-me. Não me estava a sentir nada bem - Mas tenho de te contrariar. Vou ser pai da bebé, vou estar presente e fazer tudo ao meu alcance para a fazer feliz. Não vou deixar que tenha uma infância como a minha nem que esteja sozinha quando se tornar uma lobisomem. Quer gostes, quer não, vou fazê-lo. É a minha filha.

Revirei os olhos e afastei-me uns poucos centimetros dele. Ele tinha razão no que dizia, mas ela também era minha filha. - Pois claro, quero ver quem vais ser tu, se um dia destes eu sair de Strange, oh senhor lobisomem - ora aí está.

- Se saíres de Strange e a levares contiguo então irei atrás de ti. Simples - respondi e tive de me amparar à parede, para não cair.

- Ai sim? E se não nos conseguires encontrar ham?! - olhei-o de alto a baixo e fiz uma careta. Ele estava mesmo num estado lastimável. - Totó, queres ajuda, senhor lobito?! - gozei.

- Não me queres mesmo por perto, pois não? - Suspirei demasiado cansado de tudo aquilo. Comecei a subir as escadas - Não preciso da tua ajuda - disse num tom firme

Comecei-me a rir. Eu fazia sempre isso, quando não sabia que resposta dar. - Não sei.. - mostrei a minha língua, face à sua resposta. - Ok..

Cerrei os meus punhos e fui-me sentar no sofá. Eu nem sequer sabia o que me tinha dado, para o seguir e voltar àquela casa. Mas como sempre, eu nunca fazia nada de jeito! Pois então, amaldiçoei-me mentalmente. Peguei no comando da televisão e acendi-a. Estava meio que escuro lá fora. Provávelmente ia ficar outra vez ali.

Entrei silenciosamente. Custava movimentar-me e tinha uma séria dor de cabeça latejante que me impedia de raciocinar bem. Olhei para Alina - Vou sair desta casa. Podes ficar com ela. Não faz sentido desperdiçar o quarto da bebé.

Estava aborrecida a mudar de canal em canal, até ouvir as suas palavras e desligar a televisão. Sentei-me de forma confortável no sofá e virei-me para ele. - Ham? - abri imenso a boca. - Eu não quero esta casa para nada, nem preciso dela.

- Certamente não estás a pensar viver naquele hotel, com um bebé pequeno - bufei e sentei-me na outra ponta do sofá, bem afastada - Esta casa sempre te serviu. Podes fazer as alterações que bem quiseres.

Afastei-me dele de forma a que ficassemos ainda mais afastados. - Eu não preciso da tua cara para nada. - cruzei os braços ao peito. - Não quero, muito obrigado. - disse mau humorada.