Sala de Estar

Não ia ser o típico irmão mais velho nem nada do género mas parecia-me que Jon precisava de orientação. Só era lobo à quatro meses e ainda era um puto de dezasseis anos. Quando eu passara pela mesma situação também desejara ter algum apoio, coisa que não tive. Para além de tudo mais, eu era o seu alfa. Por isso suspirei e pûs o meu mau humor de lado, tentando arranjar respostas para as suas perguntas.

- E é normal os lobos sentirem-se atraídos por loiras? Quero dizer, tu e o Jackson caíram pela Alina e pela Kim e elas são as duas loiras. A maioria das raparigas com quem estive eram loiras, também.
Olhei para o puto, que na verdade só era 4 anos mais novo do que eu. Que raios de pergunta - Não, claro que não! As loiras são é mais burras por se porém à nossa mercê, são idiotas por correrem o risco de estarem com um lobo - disse, já com o mau humor de volta. Levantei-me e apaguei as luzes da sala - Adeus, puto - E fui para o quarto.

Já era noite. Jon aventurara-se e não estava ali. Eu por um lado estava cheio de insónias. Só voltei a adormecer ali, já era de madrugada.

Acordei muito cedo, ainda o sol não tinha nascido. Não tinha sido uma boa noite, estava cansado ainda e parte da minha fúria ainda permanecia. Esta só aumentou assim que um dos lobos entrou e me veio dizer que tinham perdido Alina de vista na cidade. Idiotas. Teria eu de fazer tudo?

Fechei os olhos assim que fechei a porta e me encostei a essa. Estar soba forma humana fazia a dor sobressair. O meu ombro estava em sangue, com cortes profundos e o meu peito ligeiramente esmagado, causando dificuldades na minha respiração. Mordi o lábio e forcei-me a mover até ao sofá, onde me deitei.

Assim que desci as escadas, caminhei até a Drake e mirei-o de alto a baixo. - Ham.. tu.. tu estás bem?! - engoli em seco. Aquilo era uma pergunta tão estúpida, vendo aquele seu estado.

- Perfeito - Disse num susurro e obriguei-me a levantar-me. Para isso sustive a respiração. Dirigi-me até à casa de banho.

Revirei os olhos. Já devia ter esperado aquela sua reacção. Levantei-me do sofá e segui-o até à casa de banho.

Caramba, já era tarde para me andarem a chatear. Abri a porta e Lissa entrou de rompante, bastante furiosa - Seu, seu, seu grandessímo..! Deixaste o Jackson num estado lastimoso - Atirou-se a mim e deu-me um estalo - Podia simplesmente.. podias, sei lá - Ela no fundo sabia que eu fizera aquilo que deva ter feito, como lobo e alfa. Aliás, eu poupara-lhe a vida e isso, por si só, já era uma grande ajuda.
Por isso limitei-me a revirar os olhos e a cruzar os braços ao peito - Se já disseste tudo, então podes sair porta fora. Agora - Disse friamente, olhando para a porta.

Lissa mostrava-se pouco convencida a fazer isso. Podia sentir o seu bater coração bater mais depressa. Seria raiva, preocupação? Não sabia mas mais uma vez era tudo por causa de Jackson. Começava a ficar fartinho daquilo tudo.
Virei o meu olhar para Alina, quando esta entrou. Mais outra para se juntar à festa. Pensei irónicamente.

Mal desci as escadas, dei uns quantos passos à frente e olhei-os. Encolhi os ombros. - Ham.. morreu alguém para andares feita histérica, ainda por cima a estas horas?! - fiz uma careta. Sim, só podia.. - Não é por nada, mas o lobito apesar de ser uma merda completa, acho que ainda não é surdo.. - abanei as mãos e dirigi-me até à cozinha. Depois voltei, com uma sandes nas mãos.

Raiva. Era raiva que ela sentia e assim que Alina lhe dirigiu a palavra a raiva aumentou ainda mais. Eu simplesmente ignorei Alina, como se tornara habitual. Lissa tentou fazer o mesmo e fitou-me - Se ele ficar incapacitado, de alguma forma, eu juro...
- Juras o quê? Matar-me? Põe-te na fila. Agora vai-te embora, vai ter com o Jackson, vai ter com quiseres só não me chateies. .

Eu só ouvia o que aquelas duas pobre almas, para ali diziam, enquanto acabava de comer a minha rica sandes. E sim, eu acabara por sentir um pouco de ciúmes, quando Drake disse para Lissa ir ter com Jackson.. Mordi o lábio com força. Também tinha ficado preocupada, com o estado físico dele.

Lissa olhou-me cheia de ódio mas não voltou a dizer nada. Saiu a correr pela porta e eu fechei-a logo de seguida. Não me sentia com remorsos nem ia ligar às suas ameaças. Fitei Alina. Não falara com ela desde a tarde.
- As dores passaram-te?

Mirei Lissa a ir-se embora, nada contente. - Mais ou menos.. - respondi-lhe muito rapidamente e dei por terminada a minha sandes. Sacudi as mãos. Mas, apesar de tudo, eu não ia ficar ali muito mais tempo. Drake que se fosse lixar..

Bom, já entrevia que ela se fosse armar outra vez e não me dissesse mais nada. Encolhi os ombros e saí da sala, não dizendo mais nada.

Eu não resistia em ir embora e levar antes umas quantas sandes pelo caminho. Voltei muito rapidamente à cozinha e fiz duas sandes. Depois dirigi-me novamente até à sala e saí daquela casa.

Fora difícil chegar até ali. O meu corpo estava dormente, não conseguia sentir nada, nem mesmo as dores cortantes que tinha no ombro. Os pensamentos estavam vagos, dispersos. Não sentia realmente nada sem ser um vazio confuso dentro do peito, que pelos vistos, era tudo - ou melhor, nada - que eu tinha.

Em todo aquele caminho, tinha notado mesmo, o quanto ele estava mal. Pelo menos, a sua forma de caminhar e até mesmo o seu ar, diziam tudo. Mesmo não querendo, acabei por entrar na sua casa. Encostei-me à parede e fitei-o. - Isso tudo é por teres bebido?! - perguntei de sobrancelha erguida.

Sabia que era Alina quem falava, apesar de não discernir muito bem a sua face. Se estivesse "bem" teria-me importado e não lhe teria falado, mas neste momento não sentia nenhuma emoção - E uns quantos comprimidos - respondi neutramente, deixando cair caixa vazia de prozac para o chão.

Logo vi, que aquilo só com a bebida, não ia lá. Revirei os olhos e fui buscar a caixa, observando o seu conteúdo. - Baah.. que idiota.

Não conseguia sorrir nem revirar os olhos por isso limitei-me a não dizer nada. Sentei-me no chão, encostado à parede e tentei saborear a sensação.

Sentei-me ao seu lado e virei-me para ele. Comecei por tocar no seu braço com o meu dedo, até aquilo se tornar um hábito. - És mesmo um totó. Não ganhas nada com isto. - revirei os olhos. - Qualquer dia dá-te o badagaio e deixo de ter moço para chatiar.

Ela estava enganada, eu ganhava sim - alguns momentos de paz, momentos onde nada me magoava e onde não pensava em como era odiado por todo o mundo, momentos onde não me importava com nada, momentos onde não era ninguém.
- Ao menos assim ficavam todos felizes e contentes. O Drake morto. Aposto que faziam uma festa - Continuava num tom muito neutro.

Continuei a cutucar o seu braço, com os meus dedos. Sorri abertamente com o que ele disse. - Pois é.. isso é bem verdade! - e pensar que provavelmente também o queria ver morto. - Mas a falar assim, até parece que te morrias mesmo, só para os fazer felizes.