Houston

Deixei-me ficar abraçada ao seu corpo. Mesmo que ele dissesse que era normal, eu não me conformava com isso. - Mas podia tê-lo feito. - suspirei.

Ela podia mas seria difícil. Eu era um lobo maior do que ela e ia resistir. - Foi uma má experiência mas eu asseguro-te que não me vais matar. E prepara-te, nos próximos dias vai acontecer o mesmo.

Não queria mesmo que aquilo voltasse a acontecer. Podia simplesmente culpá-lo por tudo o que me estava a acontecer, mas simplesmente não o fiz. Acalmei o choro e limpei a minha cara. - Isto é tão mau..

- Eu sei, amor, eu sei... - afaguei as suas costas e beijei a sua face. - Mas melhora. Acredita, chega a ser fantástico.

- Não sei o que isto poderá ter de fantástico. - suspirei. Passei as mãos pelos seus braços e mirei o seu corpo e todas as feridas que aos poucos e poucos iam sarando. - Fui eu que te fiz isto, não fui?

Ela não compreendia por agora. Eu adorava ser lobisomem, na maior parte do tempo. - Sim. Mas eu estou bem, isto sara num instante. 
 

Aquilo dava-me mais vontade de chorar. Mas, consegui controlar-me. - Desculpa-me.. eu.. não foi por mal. - aquilo era estúpido de se dizer, mas eu não estava em mim, por isso. - Não quero voltar a transformar-me.. é horrível e fico com cheiro de cão.

- Eu sei que não foi por mal, Alina. Não te culpes - disse com muita paciência e compreensão. Mordi o lábio. Ela ia voltar a transformar-se, era inevitável - Posso ajudar-te com isso. Tornar a experiência mais tolerável. 

- Tornar a experiência mais tolerável? - olhei-o confusa. O que é que ele queria dizer com aquilo? Eu não me ia voltar a transformar. Quer fosse com lua cheia, ou sem lua cheia ou o raio.

- Sim. Podes encontrar um equilíbrio entre o humano e o animal quando estás transformada. - A maior parte dos lobisomens conseguia fazê-lo.

- Mas eu não quero estar transformada ou será que não entendes isso? - revirei os olhos. Nem que me enchesse toda cheia de prata atrás de prata. Não me ia voltar a transformar. Fim.

Odiava que ela estivesse em negação - Alina, vai voltar a acontecer. E mais vale estares preparada quando isso voltar a acontecer - disse.

Voltei a afastar-me dele e coloquei-me de baixo dos lençóis. A culpa disto tudo era dele. - Se voltar a acontecer, eu juro que mato.. tu provocaste isto tudo, por isso agora aguenta-te. - revirei os olhos.

Eventualmente, ela ia cair em si. Pelo menos eu assim o esperava. 
Saí do quarto. Já tinha ligado à babysitter de Vane. Ela ia ficar com ele durante os próximos dois dias. Era demasiado arriscado tê-lo em casa com Alina assim. A rapariga depressa chegou e levou o bebé depois de eu me certificar que ele tinha tudo.

Assim que ele saiu do quarto, sei lá eu para fazer o quê, puxei uma almofada e um cobertor e meti-o no corredor. Tranquei-me no quarto e voltei para a cama. Que dormisse no sofá ou onde bem quisesse. No que dependesse de mim, não me ia transformar.

Quando voltei para o quarto, fui barrado por uma porta trancada - Alina, abre isto! - gritei - Não querias estar sozinha. Deixa-me ajudar-te. Caramba, Alina abre isto!
 

- Tens tudo o que precisas.. leva-os e dorme no sofá. - tentei soar calma. A verdade é que não estava nada calma e não queria dormir sozinha. Mas estava chateada com ele. Com tudo aquilo. - Deixa-me em paz.

- Vá Alina, não sejas assim - ela ia passar por momentos terríveis e nem me deixava ajudá-la? Caramba, eu era o parceiro dela! - Deixa-me entrar.
 

Maldito fosse aquela poder todo que ele tinha sobre mim. No entanto, não ia dar tanto assim, parte fraca. Fui até ao armário buscar mais almofadas e dividi a cama. Depois abri a porta e voltei a deitar-me. - Não me toques, não me fales.. não nada!

Já era um avanço, pensei enquanto entrava no quarto. De qualquer das maneiras não me ia deitar, cedi-lhe a cama e sentei-me num cadeirão que havia no quarto.

Tapei-me toda com os lençóis. Sabia que se não o fizesse, iria passar a noite toda à procura dele. A olhar para ele. Virei-me também de costas e abracei-me aquele monte enorme de almofadas. Com algum custo, adormeci.

Eu estava nervoso. Não sabia quando é que ela se voltaria a transformar. Pelo menos estava preparada para quando isso acontecesse.

Pelo menos, desta vez não tivera pesadelos, nem dores de cabeça. Quando acordei, ainda era muito cedo, uma sete da manhã, ou coisa parecida. Fui até à casa de banho, fazer a minha higiene pessoal e depois voltei para o quarto. E mesmo que eu quisesse, não conseguia ficar muito mais tempo chateada com ele. Acabei por me ir sentar no seu colo e abraçar-me ao seu corpo. - Desculpa.. - murmurei.

Eu tinha passado o resto da noite acordado. Estava cansado mas conseguia aguentar-me bem. Já tinha as feridas saradas, pelo menos. Abracei-a também e beijei-a - não tens nada a desculpar.
 

- Eu sei que não. - tentei soar convencida. Mas o facto era que com toda esta frustração de ser transformada sem querer, todas estas mudanças, isto tudo.. eu fazia de Drake gato e sapato. - Eu não me quero transformar e tu vais ter que me ajudar a fazer isso.