Houston

- Então prepara-te. Quando for o Vane a querer isto vais servir tu de burro de carga. - resmunguei divertido. 
Aquele era a melhor parte de ser lobo. Era o contacto com a natureza, a velocidade que atingia. Era o melhor de tudo.

- É que nem penses nisso, Drake Graham! - puxei o pelo com um pouco mais força. - Tu já estás com estofo de burro de carga, podes aguentar o Vane. - já para não falar que o pequeno deliciava-se quando o via transformado.

- Na na na - respondi a rir-me.
 Acalmei o ritmo assim que parámos numa clareira. Aquele sitio era muito pacifico e eu já o conhecia.

- Então podes ter a certeza, que de mim, aquela peste não vai ter nada disso.. - era no mínimo estranho e nem queria pensar naquilo. Assim que chegámos a uma clareira, saltei de cima dele e pus os pés bem assentes no chão. Pus-me a olhar para todos os lados e só depois, me fui sentar num tronco de árvore caído.

- Veremos - Ela nunca conseguia dizer não a Vane.
Quando ela saiu de cima de mim, voltei à minha forma humana.

- Veremos.. - sorri cinicamente. Eu tinha a certeza absoluta que não ia fazer aquilo. Mas por falar em Vane.. - Hum.. nós não acabámos de deixar o bebé sozinho? - ergui o sobrolho. Sim, porque eu não me lembrava de o termos deixado com alguém o algo do género.

 - Não. Ele não está sozinho nem está em casa. - respondi. Quando menos ela soubesse, melhor. - Mas está bem, tenho a certeza.

Revirei os olhos. Detestava quando faziam coisas daquelas pelas minhas costas. Mas bom, pelo menos não estava sozinho, dentro de casa. - Está bem. - encolhi os ombros.

Sentei-me ao lado dela e pousei a minha mão na sua face, fazendo-a encarar-me - É só durante este tempo de instabilidade. 

Encarei-o, não por muito tempo. - Já te disse, que está bem. - peguei na sua mão e afastei-a da minha cara. Se Vane estava seguro, isso, era a única coisa que me interessava.

- Ok.
Estava com imensa vontade de a beijar mas ela continuava a afastar-se.

Não gostava muito do silêncio que se formava entre nós, mas preferia assim, do que estar com conversas estúpidas e cenas da treta. Levantei-me. - Eu quero voltar para casa. - olhei-o.

- Está bem - Se fossemos agora em forma humana ainda íamos demorar uma meia hora a chegar a casa.

Sorri cinicamente e comecei a andar, seguindo o caminho que ele tinha tomado, antes de chegarmos aqui. Sabia que se continuasse humana, que não conseguiria ver nada, mas, mesmo assim, não queria continuar a ser isto.

Caminhámos lado a lado, em silêncio. Isso era o pior de tudo. Aproximei a minha mão da sua, agarrando-a.

Apesar de querer, não consegui afastar a minha mão da sua. Pelo contrário, acabei por balançá-las calmamente, enquanto caminhávamos juntos. Agarrei-me ao seu braço e encostei a minha cabeça nele.

Assim o silêncio já não era tão mau. Entretanto chegámos a casa, vários minutos depois.

Caminhei até ao quarto, indo depois até à casa de banho. Atirei-me para cima da cama, puxei os lençóis para cima do meu corpo e fechei os olhos. Precisava de dormir, mais tarde trataria do resto.

Fiz exactamente o mesmo que ela. Deitei-me na cama. As últimas horas tinham sido esgotantes. Rapidamente adormeci.

Não dormira durante muito tempo. Assim que acordei, saí cuidadosamente da cama e fui até à minha mala de viagem. Eu tinha que por um fim àquilo tudo. Procurei a arma do meu tio e tranquei-me na casa de banho. Lavei a cara inúmeras vezes, antes de voltar a pegar no revolver. Apesar de algumas partes do revolver serem de prata, segurei-a firmemente. Apontei-a ao meu peito, na direcção do meu coração e fichei os olhos. Mal puxei o gatilho o meu corpo caiu estatelado no chão.

Mesmo a dormir eu estava com uma má sensação. Acordei com o barulho iminente de um tiro. - Alina - sabia para mim mesmo que era ela. Na velocidade mais rápida que consegui, encontrei-a na casa de banho. Só entrei depois de mandar a porta abaixo. 
Na casa de banho ela estava caída no chão, tinha uma mancha de sangue a alastrar-se do peito até ao chão. - Não, não, não...  - agachei-me e fiz pressão sobre o peito dela para estancar aquilo tudo. - Alina! Abre os olhos, Alina! Merda - Eu estava em pânico.

Na minha cabeça só ecoava a voz de Drake, mesmo que não percebesse nada do que ele dizia. Foi então que comecei a sentir uma enorme dor no peito, quase impossível de aguentar. Merda, não acreditava que estava mesmo viva. Até mesmo para me matar eu era imprestável.

Tinha os maxilares fortemente cerrados para tentar manter-me calmo, algo que parecia não acontecer. Chamei uma ambulância. 
- Não acredito que fizeste isto - murmurei apaticamente, ainda com a mão no peito, a fazer pressão sobre a ferida. Não havia mais anda que eu pudesse fazer. Se ela morresse seria o meu fim.

Coloquei a minha mão sobre a sua, apertando-a com força, de modo a tentar tirá-la dali. Ele simplesmente não entendia. - Eu disse.. matava-me.. não quero continuar a ser assim. - murmurei, totalmente perdida nas palavras. Alguns minutos depois, ouvi a sirene de uma ambulância. Tentei afastar-me dele.

Não deixei que ela desviasse a mão. Não ia simplesmente ficar ali, a assisti-la morrer. - Alina.... não - murmurei com lágrimas a brilharem nos meus olhos.
Os paramédicos entraram a correr no quarto e desviaram-me do caminho.