Campo

Comecei-me a rir também assim que notei o seu embaraço e deitei-me totalmente, puxando-a contra o meu corpo. - Então.. hum.. boa noite??!

Sorri. Estava à espera de mais conversa, mas sabia que não a ia ter. - Boa noite. - e antes que conseguisse resistir à tentação dei-lhe um último beijo. Não lhe disse mais nada - a realidade é que não tinha sono, por isso fiquei a olhar para o céu estrelado.

Apertei Jade contra o meu corpo e fechei os olhos. Felizmente não estava frio e só a simples presença de Jade ao meu lado, fazia com que adormecesse mais depressa e bem melhor.

Eram duas, três, quatro da manhã. O sono não me aparecia, no entanto sentia o respirar preguiçoso de Derek ao meu lado. Fiquei a mirar as estrelas, uma a uma, perguntando-me em qual delas estaria a minha família. Estive assim, até acabar por adormecer. Não passado muito tempo, talvez no máximo duas ou três horas, senti o sol a bater-me na cara.

Remexi-me naquela relva verdejante, mal senti os primeiros raios de sol a tocarem-me na face. Abri os olhos muito lentamente e dei-me de caras com Jade. Eram vagas as coisas que ainda me lembrava na noite anterior. Assim que me sentei meti a mão na cabeça.. - Eishh.. arrg.. bom dia.. acho..

Não era bem de acordar assim que eu estava à espera. Estava à espera de algo fofo, algo bonito, com um beijinho amoroso de bom dia, e apercebi-me que iria correr mal. - Bom dia... - murmurei sem me levantar ou mexer um simples dedo.

Espreguicei-me e bocejei. Segundos depois, tentei levantar-me, sem cair. Ainda me sentia tonto e doia-me imenso a cabeça. Maldita ressaca.. Olhei para Jade. Não fazia a mínima ideia do que dizer, afinal, nós nem sexo tinhamos tido. - Ham.. queres ir comer qualquer coisa?

Finalmente percebera o motivo de estar sempre a deixá-lo. Não só o meu humor, mas principalmente o dele, estava constantemente a ser alterado. Num momento era a coisa mais fofa de sempre, no outro fazia um esforço para não me mandar à merda. Levantei-me e não me aproximei dele, nem mesmo quando percebi que ele estava prestes a cair. - Não tenho lá muita fome - era uma mentira bem mentira, mas sempre era melhor dizer aquilo do que "Tens uma ressaca para curar" - que só diria em caso de emergência.

Revirei os olhos. Não estava com disposição nenhum para aturar aquela sua mudança repentina. Por amor de Deus, eu estava com uma ressaca, ela não podia no mínimo ser simpática? - Como queiras.. - dei uns passos para trás. - Que se lixe.. - peguei no seu braço e puxei-a para mim. Depois acariciei a sua cara e delicadamente depositei um beijo nos seus lábios.

Se ele me tivesse beijado na noite anterior, o mais provável era eu beijá-lo mais, tal como fiz. Mas naquele momento estava farta daquelas mudanças súbitas de humor, por isso depois de uns 3 segundos a apreciar aquele momento, empurrei-o e dei-lhe um estalo na cara. - God, decide-te! - resmunguei, toda chateada.

Já não me bastava estar de ressaca e agora ainda apanhava um estalo? Olhei para ela de olhos bem arregalados. Mas o que deu nela? Passei a minha mão pela face. Fuck, ela tinha força.. - Decido-me? Ok, aí tens a minha decisão! - revirei os olhos e pus-me a caminhar para fora dali. No fundo, não a queria deixar sozinha, mas, ainda estava muito confuso ao que eu queria e ao que era melhor para nós dois.

Senti uma lágrima ao canto do olho, mas o meu orgulho era superior - Vai e fode a maldita da tua vida! - gritei-lhe, atirando ainda umas pedras para o lado onde ele ía. A minha voz ecoou umas vezes e quando percebi que estava mesmo sozinha, sentei-me de novo na erva, passando a mão onde tínhamos passado a noite. Quando dei por mim, estavam a cair lágrimas na terra.

Cerrei os punhos com força. God, como eu estava diferente. Se fosse há uns meses atrás, nem sequer me importaria, mas agora? Agora era tudo totalmente diferente. Parei de caminhar e só voltei a fazê-lo assim que me acalmei. Eu não estava a pensar bem. Aproximei-me de Jade. Vê-la chorar era uma tortura. Sentei-me ao seu lado e abracei-a. - Desculpa-me Jade, desculpa-me.. - fi-la encarar-me e limpei as suas lágrimas com os meus dedos. - Por favor, não chores..

Primeiro vi a sombra dele sobre a relva, depois senti-o abraçar-me. A minha primeira reacção foi sacudi-lo - Vai-te embora cabrão! Deixa-me, larga-me! - gritei-lhe, abanando-me. Mas quando finalmente conclui que era inútil, juntei-me ainda mais a ele, abraçando-o com força e encostando a minha cabeça ao seu peito, deixando as lágrimas, mais uma vez, terminarem, juntamente com os pequenos soluços que entretanto vieram ter à festa.

Ignorei todas as suas tentativas de me fazer com que fosse embora. Ignorei tudo. Abracei-a com mais força e fiquei em silêncio. Naquele momento só me interessava que ela se acalmasse, que ela parasse de chorar. Não queria vê-la sofrer e não a queria fazer sofrer. Suspirei. - Eu gosto de ti Jade.. - respirei fundo. - A sério que gosto.

O suposto era dizer que também gostava dele. Todos os meus músculos, todo o meu corpo lutava por isso. Para o beijar e admitir que queria ficar com ele para sempre, tal como nos filmes. Mas não só o meu estado emocional não me permitia, como eu própria não mo permitia - Então porque é que me deixaste pendurada no baile?

- Eu não te deixei pendurada no baile.. - cocei o couro cabeludo. Não sabia como dizer-lhe que a tinha deixado para ir ter com a minha ex-namorada. Afinal, como é que se dizia isso a uma pessoa maravilhosa como Jade? - Eu precisava de resolver umas coisas.. uma amiga.. hum.. precisava de mim.

Oh, pois. Uma amiga. Do que estava eu à espera? - Então vai ter com essa amiga, tenho a certeza que ela também precisa de ti agora - acusei. O pior de tudo é que ele achava que eu era estúpida o suficiente para acreditar que "amiga" era mesmo "amiga", quando todas sabemos que é sempre ao contrário.

- É uma amiga sim, e não, não precisa de mim neste momento. - Revirei os olhos. Ela não ia mesmo começar com aquilo, pois não? - Mas.. isso tudo são ciumes ou.. ?!

-Claro que não são ciúmes, seu estúpido! - apressei-me a negar, talvez depressa demais. É claro que eram ciúmes, mas era ainda mais claro que eu não ia admitir. E como não podia dizer só aquilo em minha defesa, tive de continuar: - Tu estavas demasiado ocupado para mim naquela altura, por isso também deves estar demasiado ocupado para mim agora. Vai. - eu não queria que ele fosse. era a verdade das verdades.

Semicerrei os olhos e continuei a fitá-la. Eu não ia a lado nenhum. Abracei-me ao seu corpo e pousei o meu queixo na sua cabeça. - Queres mesmo que me vá embora, senhora Jade?

-Se eu quero que te vás embora? - repeti - Quero. - confirmei, com toda a certeza disso. No entanto, a deixa não estava terminada: - Quero que te vás embora, se continuares a deixar-me para trás assim. Se continuares a ter essas mudanças de humor súbitas. E se continuares a tratar-me como se eu fosse uma barbie numa caixa com mais 200.

Olhei seriamente para ela. Não acreditava, nem queria acreditar que ela estava a dizer aquilo. Revirei os olhos. - Pois, como queiras.. - afastei-me dela e levantei-me. - Se me for embora, será para sempre. - encolhi os ombros e cruzei os braços ao peito.. Eu era um estúpido, estúpido!

Engoli a seco, sentindo o meu corpo a tremer novamente. O pensamento de perdê-lo, para sempre, dava-me arrepios. Mas não os ia mostrar. - Se te fores embora significa que sabias que eu era mesmo só mais uma entre outras. - acho que não tinha feito muito sentido, mas era suficiente.

Eu já nem queria saber o que ela estava para ali a dizer. Que fosse.. Eu nunca devia ter saído do meu foco: caçar raças inimigas e não apaixonar-me por uma rapariga.. - Como queiras.. - Virei costas e comecei a caminhar para fora dali.