Wyoming

Semicerrei os olhos. Lobo idiota, estúpido.. Trepei até ao telhado da casa e sentei-me perto da janela do quarto de Vane. Mais tarde, os que estavam comigo acabaram por aparecer e abancar ali por perto.

Eu sentia a presença de vários lobos em redor da minha casa. Alina andara sempre a pedir-me para arranjar uma alcateia, fosse lá porque fosse. Agora ela conseguira uma... veríamos quanto tempo levava até ela se lembrar de os matar a todos, tal como fizera aos meus.

Apesar de Vane ser um rapazinho inteligente, ainda me admirei quando meio a custo, acabou por vir ter comigo. Estava frio lá fora, pelo que o abracei com força e o protegi com o meu corpo. Às tantas acabou por adormecer.

Eu estava ligado a Vane e sabia que o pequeno estava feliz. Confuso mas feliz. Já fazia algum tempo desde que o sentia assim e por isso deixei estar. Entretanto aproveitei para procurar nos arquivos do meu avô.

Parecendo que não, o dia a seguir, apareceu rápido. O pequenote acordou cheio de fome, por isso, deixei-o ir lá para dentro. Entretanto, os da alcateia também acabaram por ir procurar algum sítio para ir comer.

Fui buscar Vane e comecei o dia como se fosse outro qualquer, como se não houvesse Alina e uma alcateia lá fora. Vesti o pequeno, dei-lhe o pequeno-almoço e deixei-o ver desenhos animados. Contudo hoje ele não estava muito interessado nisso.

Desci até lá em baixo e esperei que Vane viesse até mim. Demorou, mas ele lá apareceu, com um enorme sorriso nos lábios. Peguei-o ao colo e saí dali para fora. Ia dar um passeio com ele, quer Drake quisesse, quer não.

Saí de casa também. Não ia vigiar Alina, por mais que quisesse. Se alo de errado acontecesse Vane informar-me-ia e numa questão de segundos eu estaria lá. Por isso saí dali e fui até ao cemitério.

Passei o dia todo com Vane. Mesmo que eu não conhecesse aquilo, desenrasquei-me e conseguimos a ir a vários sítios. Comemos um gelado, almoçámos, lanchámos e por fim ficámos a brincar num parque infantil.

O cemitério era um sitio onde não gostava de estar. Agora tinha ali duas pessoas que tinham sido muito importantes para mim, o meu avô e Lana. Passei primeiro na lápide da minha melhor amiga, ainda nova e com flores novas. Havia muita gente nesta cidade que a adorava. Suspirei e segui caminho até à do meu avô. Esta ficava na extremidade do cemitério e tinha uma pedra velha e gasta, não havia flores sem ser a erva daninha que crescera em volta.
- falhei, avô, falhei.

Algum tempo depois, Vane começou a embirrar. Peguei-o pela mão e seguimos para a casa. Mas a meio do caminho, o pequenote apontou para o cemitério. Bem ao longe, num canto, consegui ver a silhueta de Drake. - Queres lá ir, não é? - o bebé abanou a cabeça. Mais valia fazer-lhe a vontade.

Os meus punhos estavam cerrados mas tremiam. Aliás, tudo em mim tremia. Não sabia se era por raiva, desespero, tristeza ou medo. Apenas sentia que desapontara ao meu avô, que lhe falhara.

Lenta e silenciosamente, dirigimos-nos até Drake. Só percebi tudo, quando olhei para a lápide e para o nome que estava na gravura. Toquei-lhe no ombro. O bebé foi logo abraçar o pai.

Estaquei assim que me apercebi da presença deles. Abracei Vane e parei de tremer. Não gostava de mostrar a fraqueza que me preenchera naquele momento.

Afastei-me ligeiramente deles e suspirei. Foi então que reparei na figura perto de nós. Era ele, o avô de Drake, fosse o que fosse. - Ele está aqui. - murmurei.

Eu ainda não a percebia. Mas agora via fantasmas?
- Tens a certeza que é o meu avô? Tu canas-lhe de Kevin.

- Claro que tenho a certeza. Falo com ele prai há quatro ou cinco anos! - revirei os olhos. - O gajo é igualzinho ao da foto. Kevin, Vane.. o que seja. - e apesar de ser meio que maluca, eu sabia reconhecer uma pessoa, quando a via.

Aquela ideia não me entrava na cabeça.
- Ele fala contigo? - perguntei, hipoteticamente acreditando nela.

Tentei não me aborrecer com a sua pergunta. Era aquilo mesmo que tinha acabado de dizer. - Sim. Às vezes, sim.. - abanei a cabeça. Mas ele nunca me tinha falado que era parente de Drake, nem tão perto. - Foi com ele que passei o tempo em Houston. Foi ele que me protegeu, no dia em que o Vane nasceu e te foste embora com ele.

As coisas não faziam sentido nenhum para mim mas mesmo assim, falei.
- Se é assim, se estás mesmo aqui avô, dá-nos alguma pista sobre o que é isto.

Fiquei atenta ao que poderia ali acontecer. O avô dele apontou para lápide e subitamente esta começou a ser riscada, até formar algo como ''graw guh djoe''.

A minha respiração parou. Gra Go Deo. Havia uma canção muito triste que o meu avô costumava cantar, era para a minha avó. Gra Go Deo, Love Forever. Era esta a mensagem do meu avô?

Eu continuava completamente confusa, sem perceber realmente do que ali se estava a passar. O avô dele acenou para mim, como fazia na maioria das vezes e desapareceu. - Ele foi embora.. - encolhi os ombros.

Mordi o lábio e fiquei em silêncio.
- Está na altura de sair daqui... - comecei a caminhar ainda com Vane no meu colo.

Não lhe disse mais nada. Segui atrás dele.
Fosse o que fosse, parecia que ele tinha percebido.