Wyoming

- como se me importasse - revirei os olhos. A verdade é que ainda me importava, depois de tudo, ainda me importava. Mas tinha de ignorar. Mexi-me mal me vi livre daquele transe.

Escondi o quanto aquelas palavras me magoavam. Encostei-me à parede da casa e chamei novamente por Vane. Meio que a medo, o pequenote aproximou-se de nós. Trazia com ele, um pequeno álbum, cheio de pó e tudo o mais.

Odiava que Vane visse aquilo tudo. Sabia o quanto o deixava infeliz. Não me desloquei para perto nem longe, queria ver o que ele fazia.

- Papá e mamã.. - olhou para nós dois e optou por vir ter comigo, que estava mais perto. Passou-me o álbum. Sinceramente, não sabia o que é que ele queria com aquilo. - Papá e mamã.. - voltou a repetir. Olhei para a foto que ele indicava e arregalei os olhos. - Mas que.. coisa é esta?

Aproximei-me e vi por cima do ombro do que estava ela a falar. Vi a foto em questão, que nunca vira na minha vida - esse é o meu avô quando era nova e a outra... - li a descrição em baixo - é a minha avó, aparentemente.

- O teu quê? O teu avô? - arregalei ainda mais os olhos. - Não pode ser o teu avô.. - abanei a cabeça. - Este é o Kevin, o meu amigo imaginário! - oh boy, eu devia estar a ficar ainda mais maluca. Depois olhei para a mulher em questão. Ela era parecida a mim, ou era impressão minha?

- Mas é claro que é o meu avô, temos parecenças - respondi impaciente. - Kevin? Mas de que raios estás tu a falar outra vez? - ela já falara naquele nome antes.

Não me queria exaltar, mas estava-me a sentir demasiado confusa.
- Eu tenho a certeza que este é o Kevin! - abanei a cabeça.
Ele estivera comigo quando fugira em Houston e muito antes, também.

- O Kevin é o teu amigo imaginário! - Louca, completei mentalmente. - Pára de o relacionar com o meu avô.

- Mas é ele! - gritei, ao mesmo tempo que apontava para aquela estúpida foto. Será que aquilo não entrava na sua cabeça? Entretanto, o bebé começou a chorar. Atirei o álbum para o chão e peguei em Vane, tentando-o acalmar.

Foi a minha vez de pegar no álbum. Passei as pontas dos meus dedos pelos contornos da foto e tremi. Analisei melhor a imagem da minha avô. Engraçado, ela tinha um sorriso igual ao de... Olhei para Alina - porra.

Lá consegui fazer com que o bebé parasse de chorar. Sorri abertamente, quando consegui suavizar aquele seu ar de assustadiço. - O que foi? - olhei para Drake, perto de revirar os olhos.

Olhei para a fotografia e depois para Alina e assim repetidamente.
- Tu és parecida à minha avô - aquilo ia soar uma tolice.

- Não me digas. - desta vez, revirei mesmo os olhos. Já tinha notado naquilo. Acabei por me aproximar dele e olhar novamente para o álbum. - Eu sei. E isso assusta-me.
- Mamã e papá.. - Vane apontou para a foto em questão. - Mamã e papá..

Havia algo de muito estranho e muito errado com aquilo.
- tem de haver alguma explicação para isso.

Naquilo tinha que concordar com Drake. Foi então que.. - Lembraste de me teres dito que parecia que me conhecias há imenso tempo? - olhei para ele. Um olhar sem qualquer tipo de censura, zanga ou irritação. - E se.. e se isto tudo estiver ligado? Se o meu amigo imaginário.. as semelhanças entre mim e a tua avó.. - engoli em seco.

Claro que me lembrava disso. Havia alturas em que ainda sentia isso, quando ela estava próxima de mim e não a agir como uma cabra psicopata. - Onde é que queres chegar? - eu já percebera mas era difícil de acreditar, precisava que ela metesse isso em palavras.

- E se já nos conhecêssemos mesmo? E se.. - aquilo parecia ser tão irreal. - E se de alguma forma, eles fossem.. sei lá. - e se aqueles dois fossem uma espécie de antepassados nossos. - Se isto for algo para nos dizer que devemos..

- Que devemos o quê? - Queria que ela metesse em palavras aquilo. Seria difícil de acreditar mas a verdade é que o sabia, havia algo profundo dentro de mim que sabia que aquilo não era nenhuma coincidência e que estávamos destinados a ficar juntos.

Que não devemos nada. Era aquilo que eu tinha vontade de dizer, somente para nos magoar. Mas sabia exactamente que não o sentia e que seria de uma falsidade tremenda negar o óbvio. - Que devemos ficar juntos.

Ficar juntos. Não era preciso aquela bizarraria para sabermos isso mas as coisas davam sempre para o torto entre nós - devia ser assim mas sempre que estamos juntos lixamo-nos um ao outro.

- Hum.. - Não me pronunciei muito sobre aquilo. Afinal, era verdade. Sempre que estávamos juntos e felizes, havia algo que estragava e destruía tudo. Pousei o bebé no chão e vi-o desaparecer rapidamente, para dentro de casa.

Fechei o álbum e deixei de pensar naquilo. O que acabara de descobrir era muito estranho e perturbador. - vou tentar encontrar alguma coisa do meu avô que osso estar relacionada com isto.

Revirei os olhos. O que é que ele queria encontrar ainda mais? Não era óbvio tudo o que ele vira naquela foto? - Boa sorte. - pronunciei de forma irónica.

Revirei os olhos e não disse nada mais.
Entrei em casa e fechei a porta.