Sala de Estar

- Ok, então - bebi um trago do brandy - Disseste-me naquela caserna que tinha encontrado uma forma de envelhecer. O que é que tencionas fazer agora?

Abanei a cabeça. Disse e voltaria a dizer-lhe quantas vezes fossem precisas. Eu queria envelhecer, morrer como uma verdadeira humana. - Já te disse.. talvez comece o processo, quando o Vane atingir os dezoito anos, ou coisa parecida.

- É isso que queres? Acabar com a tua vida - Que pergunta, Drake! Claro que ela quer. Bem a viste a tentar suicidar-se.

- A minha vida já há muito que acabou. - sorri cinicamente. Mas não valia a pena discutir aquilo. Já estava mentalizada no que era. - E eu não vou ''acabar com a minha vida''. Vou só envelhecer. Em vez de morrer aos 200 ou coisa parecida, morro aos 90.. vai dar ao mesmo.

Aquela era a confirmação que precisava.
- A vida de lobisomem é perigosa. Se te meteres isto... se acontecer um ataque não poderás fazer nada.

- Este processo não vai afectar em nada no meu poder.. não é como se ficasse totalmente incapacitada..- suspirei. Aquilo era das únicas coisas que não afectaria, sem dúvida. - E depois, vais-me dizer o que faço com tantos anos de vida? - simplesmente não estava pronta, nem queria, passar quase duzentos anos, daquela maneira.

Vives comigo. Vives com o teu filho. Ama-me. Era o que eu queria pedir-lhe desesperadamente mas fiquei calado.

- Bom, se não tens mais nada a dizer, vou voltar para o pé de Vane. - encolhi os ombros. O ambiente entre nós ainda era estranho. Suspirei e subi as escadas.

Deixei-a ir. Não podia fazer nada para alterar os meus sentimentos por ela. Sim, amava-a mas isso não era o suficiente para ela. Uhh, preferia nunca te ter conhecido, Alina Philips.

EU abri a porta descontraidamente. Surpreendi-me ao ver Kim. Pensei que ela estivesse a milhas de Strange. Tinha um ar débil, de quem se drogava. Não era em nada a rapariga que eu conhecera há um ano e pouco atrás.
- Hey.
- Tens que me ajudar Drake. Por favor.

Apareci na sala, alguns segundos depois e encostei-me à fronha da porta, que dividia a sala da cozinha. Cruzei os braços e olhei para Kim. Fazia algum tempo que não a via e estava com um péssimo aspecto. Parecia que os papéis se tinham invertido e agora a coitadinha era ela e não eu. Drake era meu e não dela.
- Eu não tenho para onde ir, não tenho ninguém. És a única pessoa mais próxima.. - desmanchou-se em lágrimas e apesar de me querer mostrar ''compreensível'', os ciúmes acabaram por falar mais alto e revirei os olhos.

Sem ter oportunidade de dizer alguma coisa, Kim entrou e abraçou-se a mim, a chorar e a soluçar. O cheiro dela confirmava aquilo que eu temia: drogas, má nutrição, desleixo. E era minha culpa que ela se tivesse desencaminhado da vida. Se não fosse por mim, por a ter amado durante aquele curto espaço de tempo, ela provavelmente ainda seria a bailarina que almejara ser na altura.
- Podes ficar aqui, Kim. Mas com uma condição: vais recuperar a ti mesma.

Nem queria acreditar quando Drake a deixou ficar ali. Ele sabia perfeitamente que eu tinha um ódio de morte à miúda. - É que só podes estar a gozar comigo. - voltei a revirar os olhos e subi lá para cima.

Afastei Kim de mim. Tinha de falar com Alina, o que ia ser difícil. Mas dera a minha palavra a Kim e não ia voltar atrás. - dá-me um momento - fui atrás da minha luna.

Desci as escadas, sem querer saber se Drake vinha atrás de mim, ou não. Fiz um esforço enorme para ignorar a presença de Kim e peguei no pequenote, beijando a sua face.

- Alina, espera aí! - gritei antes que ela saísse - Isto é mesmo muito estúpido, fica. Nem vias notar a presença dela, prometo.

- Estupidez é saberes perfeitamente que eu não a quero aqui e no entanto a deixares ficar. - Afastei-me do bebé e caminhei até à porta. - Está decidido, acabou. - e saí dali para fora.

Cerrei as minhas mãos em punhos. As minhas veias ficaram salientes na pele mas tive de me conter, caso contrário transformaria-me ai mesmo - ela volta - susurrei.

Ela volta. Não, vão voltou. Acabaria por voltar mas as coisas não iriam mudar. Alina era volátil, com um humor inesperado e, mesmo que a sua ausência me ferisse, não a podia deixar ganhar nisto. Durante aquela semana tentei recompor Kim, mete-la nos eixos. Não foi fácil mas lá consegui iniciar a mudança.

A vida era uma merda para mim. Sempre fora. Mas com a chegada de Vane e depois as pazes com Alina tinham-me feito esquecer disso. Agora sabia-o novamente, a vida era uma merda. Naquele dia estava sozinho em casa apenas com Vane, Kim saíra. Tentei entretê-lo mas nada reultava.

Eu sentia as alterações e toda aquela turbulência que Vane sentia.
Por isso, mesmo contrariada e com cara de poucos amigos, fui para a casa de Drake.

Já pressentira a chegada dela. Deu-me tempo para revirar os olhos antes dela entrar.
- olha quem decidiu aparecer - exclamei sarcásticamente.

Não lhe respondi, ignorar a sua presença era algo que já estava acostumada a fazer, sempre que vinha buscar Vane. O pequenote levantou-se meio desajeitado e foi a correr até mim. Abracei-o com força.

Os meus lábios estavam cerrados numa linha fina e estreita. A presença dela incomodava-me, porque sabia que ela ia-se embora novamente. E nisto tudo apareceu Kim pela porta e trazia um presente para o Vane...

Sentei-me no chão, entretida a acalmar o pequenote e a tentar retirar um pequeno sorriso dos seus lábios. O que nem demorou muito tempo. Olhei para Kim e revirei os olhos. Vane não precisava de presentes dela e queria longe do meu filho. Fiz um pequeno esforçozinho, até ver o que ela tinha trazido completamente amachucado e destruído.