Floresta

Só agora é que me apercebia que, cada vez que estava perto de Vane, sentia uma sensação de ligação dentro de mim, coisa que já acontecia mesmo enquanto Alina estava grávida. Mesmo que ela quisesse, aquilo era algo que ela nunca poderia anular e que Vane sempre saberia do que se tratava.
- O que estás a fazer aqui?

Revirei os olhos, vendo de quem se tratava daquela presença.
- Estou a passar o tempo, ou tu és cego? - sorri cinicamente.

- A passar tempo, aqui, exposta a vampiros, tiros desviados e tudo o que se possa imaginar? - critiquei.

- E quem te disse que estou realmente exposta? - na realidade até estava. Fazia uma hora ou duas que não tinha sinal nenhum do meu querido amigo imaginário e mesmo assim.. - Agora que já acabaste de falar, podes ir embora.. xau.. xau..

- Porque sou uma predador natural e sei reconhecer uma presa fácil - disse num tom neutro, de aviso - Não me vou embora. Foste-te embora, levaste o Vane... nem penses que o voltas a fazer novamente.

- Correcção, és um assassino.. mas, vai dar tudo ao mesmo. - não o queria perto de mim, nem mesmo perto do bebé. Queria estar sozinha com o meu filho. - Vai sonhando..

Não valia a pena discordar. Mas ela também era uma assassina.
- Alina, não estou mesmo a gozar.

Olhei para ele com um ar deveras sério. E ele pensava que eu estava?
- Drake, eu também não estou a gozar.. - puxei o bebé mais contra o meu corpo.

Possessiva - Diz-me uma coisa.... - aproximei-me dela - porquê que achas que eu te reanimei?

- Porque tu és um burro. - fiz um ar pensativo e afastei-me vagamente. - Porque tu és um gajo inútil e precisas de mim para alimentar o Vane.. só..

Pois, francamente, parecia que sim. A minha vida estaria mais facilitada sem ela - Não precisava de ti para isso, há alternativas. Salvei-te porque cresci sem pais por perto e tu também, até certo ponto da vida. É horrível, não é? Não queria nada disso para o meu filho.

- Pois, mas eu não te perguntei nada.. logo, isso não me interessa mesmo. - mas também tinha de dar razão a Drake. Doía imenso crescer sem pais e nem eu queria que o bebé crescesse sem mim. Só sem Drake mesmo..

Cabeça dura, mesmo - Eu cresci sem nenhum dois. Sabes quão difícil é chegares aos dezasseis anos, de repente virares lobisomem e não teres ninguém com experiência para te ajudar? Não queiras que o Vane sinta isso.

Encolhi os ombros e fiz um ar pensativo, face às suas palavras. Ele podia ter razão naquilo tudo o que ele dizia, mas eu não o queria perto de Vane. Será que não dava para perceber. - Quero lá saber.. não cresceste com pais, por alguma razão foi. - olhei para ele sorriso. - Até eles te consideraram um monstro não foi? Coitado.. que rejeitado..

Não ia deixar que as palavras delas me atingissem. Os meus pais é que eram monstros, não eu - Será culpa tua, percebes? O Vane precisa de um pai, caramba!

Abanei a cabeça num claro não e levantei-me.
- Não, ele não precisa de um pai! Ele precisa de mim!

- E precisa de mim, também! Caramba, Alina, também é meu filho, não o fizeste sozinho. Eu posso tratar dele, eu posso dar-lhe coisas que tu não poderás dar. Estás a ser egoísta para com o Vane! - reclamei.

Estava a ficar verdadeiramente frustrada, com toda aquela conversa.
- Ele não precisa de ti! Vai-te lixar Drake, és um monstro, não quero monstros perto do Vane!

- E que exemplo és tu? O Vane tem os meus genes, sabes, aqueles tu tanto odeias. Podes achar que sabes tudo acerca de lobisomens, mas estás enganada! - lá estava eu a levantar o tom de voz.

Inspirei fundo e olhei-o com um ar bastante sério. - Ai é, ai é? - atirei-lhe o bebé bruscamente para os braços. - Tão fica com ele! Engole-o! - dei meia volta e fui-me embora.

Vane começou a chorar descontroladamente pela forma de brusca de como tinha vindo parar aos meus braços. Mas que merda? - Alina! - Como pudera ela fazer aquilo ao bebé? Tentei acalmá-lo, embalando-o - Não chores, Vane... o papá esta aqui - ia murmurando e voltei a seguir o trilho de volta a casa. Tinha de arranjar uma forma de mudar Alina e tolerá-la. Eu estava a falar a sério quando dissera que o bebé precisava de uma mãe e de um pai, não apenas um. Fui para casa.

Depois de algumas caminhadas, acabei por voltar à floresta. Caminhei por entre caminhos, atrás de caminhos, até me encontrar praticamente meio longe da cidade de Strange. Eu ainda me lembrava, de quando era pequena, passar por aquele local e esperar por alcateias. Lembrava-me perfeitamente que aquilo era o certo, para começar o meu treino. Preparei o elixir em cada uma das armas e esperei.

Mordi o lábio com força, assim que matei o primeiro lobo que encontrara. Não o conhecia, mas sabia que ele não era de nenhuma alcateia de perto. Fora apenas um tiro certeiro, talvez sorte de ''principiante''. Mal ouvi outro barulho, pus-me alerta e seguidamente, matei outro. Tinha que admitir que aquele elixir dava um efeito mais imediato, que somente a própria prata. E sabia, que se algo desse para o torto, ainda teria o meu poder e Kev para me ajudar..
Algumas horas depois, saí dali..

Segui o rasto deixado. De vez em quando ainda surgia o de Vane, o que apenas provocava ainda mais a minha fúria e aflição. Umas metro à frente, bem no centro da floresta, perdi o cheiro. Bolas!

Passara a noite em branco. Fizer buscas na floresta durante a noite inteira. O cheiro de Vane já se dissipara, porém ainda conseguia distinguir rastos dos outros dois. Caramba, onde é que eu me estava a enganar?