Quarto do Tio Ben

Entrei no quarto do meu tio e olhei em redor. Apesar de quase nunca entrar lá, continuava igual. Sentei-me na cama e fechei os olhos. Eu sabia que naquilo em que pensava, poderia prejudicar a minha filha em muito. Mas, naquele momento, eu só via vingança à frente. Raiva, ódio.. passei a minha mão pela barriga e deitei-me.

Não conseguira pregar olho a noite inteira. Dera voltas e voltas à cama, mas nada surtia efeito. Entretanto, já lera ao todo, dois livros numa só noite. Aprendera imenso sobre criaturas estranhas. Fora bom para desanuviar por uns segundos. Mas a imagem de Drake a matar o meu tio, não me saia da cabeça, por nada daquele mundo. Cerrei os punhos. O jogo ia começar.. Mais tarde, seria o enterro do meu tio.

Não sabia o como de ter aguentado tanto aquele dia. A ida ao cemitério só me fizera sentir mal disposta e enjoada. Se eu já estava sozinha, então sem o meu tio, estava o quê?!
Apesar de todos os pêsames das pessoas da minha família, dos amigos e aliados, nada me fazia acreditar, que alguém estava realmente sentido com aquilo, ou arrependido por me ter virado as costas. A meu ver, só fingiam sorrisos amorosos. Eu sabia que por de trás daquilo tudo, eles julgavam-me e julgavam o meu tio, pela burrice que cometera ao aceitar criar-me. Não confiava em ninguém, era certo. Sabia perfeitamente que estavam todos desejosos de tomar o seu lugar, como chefe da família. Para eles, tinha sido uma dádiva dos Deuses, aquela morte.
Ficara o tempo todo com uma peça de roupa dele, agarrada ao corpo, enquanto sentia as lágrimas escorrerem-me pela face. Lágrimas essas, que se foram juntar às pequenas góticulas de água, que caiam pelo céu. Foram feitos diversos discursos. Quanta falsidade minha gente.. Por fim, quando me encontrei sozinha, jurei vingança.
Mal cheguei a casa, tranquei a porta e caminhei até ao quarto do meu tio. Fechei a porta atrás de mim e deitei-me na cama. Eu não conseguia adormecer. Afinal, numa situação daquelas, era mais que impossível, fazê-lo. Levantei-me alguns minutos depois de o meu choro ter acalmado e fui buscar o revolver. Coloquei-o em cima da cama. Olhei em redor e como a curiosidade era grande, remexi nas suas coisas. Li o conteúdo dos seus cadernos, dos livros que ele lia. Mexi em papéis que até agora eram secretos. Nunca antes tinha visto aquilo.. eram novas armas, líquidos, pratas, tudo.. receitas, desenhos estranhos, criaturas estranhas, diferentes de tudo aquilo que eu tinha aprendido. Engoli em seco e puxei tudo para cima da cama. Sentei-me nela e observei aquilo com o maior detalhe possível. Não precisaria de ajuda para proguedir o seu projecto. Não precisaria de ninguém. Só de mim..

Fechei a porta atrás de mim e peguei nos cadernos e em todas as coisas que eu estava a trabalhar dentro daquele quarto. Ou pelo menos, a tentar acabar e melhor o que o meu tio estivera a trabalhar. Sentei-me em cima da sua cama e beberiquei um pouco da minha garrafa de água.

Passara o tempo todo a estudar com inumeros livros, a fazer calculos e a ler sobre espécies e experiências.. Quando a fome apertou, saí daquele quarto e fui até à cozinha, comer os restos do almoço de ontem. Voltei para o quarto, uns minutos depois..

Estava tão cansada e tão confusa quanto àquelas coisas todas, que acabei por adormecer naquela cama. Coloquei-me de baixo dos lençois e revirei o meu corpo.
Foi então, que alguns minutos depois, ouvi um estrondo qualquer vindo da sala.. levantei-me assuntada e desci até ao andar de baixo.

Assim que cheguei a casa, arrumei as minhas coisas e sorri maléficamente. O meu treino tinha sido um êxito. Entrei na casa de banho e tomei um duche. Seguidamente, fui até ao quarto do meu tio e guardei tudo o que fosse projectos e tudo o mais no seu cofre. Coloquei-me de baixo dos lençois e fechei os olhos.

Remexi-me na cama e olhei para o tecto. Um pequeno sorriso apareceu nos meus lábios. Dava tudo para ver a cara de Drake, quando visse o estado que Lissa estava. A esta hora, o veneno do elixir já tinha secumbido o seu corpo quase todo.

Acabei por entrar numa divisão completamente às escurar. Abri as percianas e fechei os olhos, instintivamente, mal os primeiros raios de sol atravessaram o quarto. Suspirei e olhei em redor. Via livros e cadernos espalhados no chão. Aquilo abriu-me a curiosidade, pelo que apanhei um por um e coloquei as coisas em cima da cama. Sentei-me nela e mirei tudo. Não sabia realmente de quem era aquele quarto, mas a foto na mesa de cabeceira, fez-me ficar pensativa.

Sinceramente estava a ficar cada vez mais confusa com tudo o que lia. Até agora, todos os livros e informações que encontrara naquela casa, eram um bicho de sete cabeças! Nem mesmo o albúm de fotos que tinha encontrado, me dissera alguma coisa. Encolhi os ombros, o melhor que pude e suspirei aborrecida. Sim, aquilo ia ser difícil.