Houston

Não acreditava que ela estava mesmo à minha frente. Também estava mal, mas estava ali. - Estás bem, Alina? - perguntei, tentando pôr-me em pé. Coisa que obviamente não estava a resultar.

Tirando todos os ferimentos que o meu corpo tinha ganho, à pala daqueles psicopatas, sim, eu estava bem. Pelo menos, era como me sentia, mais ou menos. Abanei a cabeça. - Estou sim.. - puxei-o novamente para o chão e obriguei-o a ficar sentado. - Ainda estás fraco. Descansa um pouco.

Fiquei sentado, não que quisesse mas sim porque não conseguia ficar em pé.  Cerrei os dentes for estar debilitado a esse ponto. - Temos de sair daqui, não posso ficar parado. 

Odiava quando ele se armava em teimoso. Mas eu também era teimosa, pelo que acabei por insistir em ficarmos ali. - Já viste o teu estado? Mal te aguentas em pé! - suspirei. Abanei a cabeça e passei as mãos pelos meus braços, seguidamente pela minha cara. - Descansa uns cinco minutos, nem que seja..

Mantive os dentes cerrados. Cinco minutos não iam fazer diferença para mim mas podiam fazer diferença para os caçadores. 
Já que não podia fazer nada quanto a isso, rasguei a caminha camisola, fazendo um torniquete à volta da minha perna onde levara o tiro. Felizmente a bala já saíra.

Revirei os olhos. Já sabia que não ia ser bem sucedida no que tocasse a ficarmos ali, nem que fosse por uns cinco minutos. Levantei-me e olhei-o seriamente. - Se continuares a não conseguires colocar-te em pé, apoia-te a mim. - encolhi os ombros. - Sei de um sítio bem seguro e difícil de ser encontrado.

Não tínhamos outra alternativa. Ou melhor, eu não tinha outra alternativa. Levantei-me e apoiei-me nela. Fiz um esforço para não ser uma carga tão pesada e imóvel.

A casa era apenas a dez minutos dali, mas se fossemos em passo apressado, ou seja, em passo sobrenatural. Se continuássemos assim, iríamos facilmente ser interceptados. Revirei os olhos e suspirei. - Sobe para as minhas costas. - aquilo era meio weird, mas era a única maneira que eu tinha de despachar aquilo. - E nem resmungues!

Eu estava a odiar toda aquela situação. Acabei por fazer aquilo, sabendo que sozinho não me ia conseguir mover. Minutos depois estávamos a chegar a uma casa degradada.

Se não fosse a força que tinha adquirido depois de ter sido transformada, nem sequer me tinha aguentado em pé. E mesmo assim, Drake continuava pesado. Foi um alívio quando ele saiu das minhas costas. - Vais conhecer um amigo meu. - sorri abertamente. Abri a porta de casa e espreitei lá para dentro. Acendi a luz, já que as persianas estavam todas fechadas. - Kev! Kev?! - se calhar, tinha saído.

ham.. não há luz, sabes xD'D

O espaço era escuro mas a minha visão ajustou-se e consegui ver bem. Aquilo não era mais do que um espaço velho e degradado. Ele tinha ficado aqui? Enchi-me se ciúmes assim que ela disse que tinha um amigo.  Encostei-me a uma das paredes, ficando quieto - foi aqui que ficaste durante este tempo todo?
 

- Foi sim. - Abanei a cabeça e sorri abertamente. Comecei a procurar Kevin por todos os lados da casa, subi o andar de cima e minutos depois, desci. - Acho que o Kev saiu. - encolhi os ombros. Puxei Drake pelo braço e puxei-nos para o sofá. - Precisas que te trate de alguma ferida?

 

Continuei a olhar em volta. Não havia vestígios de ter ali estado outra pessoa. O local era imundo e desorganizado. - Não preciso de nada, obrigado - respondi num tom cerrado. Agora que a minha mente começava a ficar mais nítida, começava a pensar em tudo o que acontecera recentemente - basicamente, ela ter fugido.

- Está bem. - não esperava que o nosso ''reencontro'' fosse.. fosse assim, daquela maneira. Pousei as mãos nos meus joelhos e olhei em redor. Não gostava de silêncio. - Eu descobri uma maneira de.. hum.. ter uma vida normal. 

 - O que é que queres dizer com isso? - perguntei, fitando-a. E essa vida normal provavelmente não envolvia o Vane... ou eu.

Puxei o enorme livro que estava em cima da mesa da sala e tirei-lhe o pó de cima. Era o mesmo livro que eu tinha visto o que um lobo precisava de fazer para envelhecer. - De eu puder envelhecer. - abri o livro.

Eu não conseguia ouvir aquelas coisas. Com algum esforço, levantei-me - Podes envelhecer quando quiseres. Mas neste momento tens quê? Dezoito, dezanove anos? Não podes envelhecer mais do que isso.

Peguei na sua mão e impedi-o de se afastar de mim. Fechei o livro com uma das minhas mãos desocupadas. - Eu sei. - suspirei. Mas será que ele não me ia apoiar nas minhas decisões? Afinal, era eu que escolhia o que queria fazer de mim. - Eu não quero envelhecer já. Talvez quando o Vane atingir a maioridade. - sim, sem dúvida que a partir daí, eu não me importaria de tentar viver uma vida normal.

Não sabia se queria ouvir tudo aquilo. Ela estava a dar-me esperança de continuar viva durante mais uns dezasseis anos, no mínimo. Mas e se de repente, mudasse de ideias? Isto era tudo tão cruel para mim. 
- O que é que tencionas fazer agora, Alina?

Naquele momento, o que mais queria, era sem dúvida, voltar para casa. E quando dizia casa, dizia voltar para Vane e para Drake. Aquelas três semanas tinham sido tão horríveis. Passara por coisas estranhas e se não tivesse sido Kevin, nem sabia como me aguentar. - Quero voltar. - isto era, se ainda me fosse permitido.

Se por um lado o meu coração rejubilava por ela querer voltar, outra parte mim encontrava-se cautelosa e ainda magoada. Contudo não podia fazer nada. Eu amava-a e queria-a a meu lado. E mesmo que assim não pudesse ser, pelo menos Vane precisava dela.
- É a segunda vez que desapareces, Alina. Não digo isto por mim mas sim pelo nosso filho. Não voltes a fazê-lo. - avisei sériamente - É a tua última oportunidade. 

Eu não tinha desaparecido de todo, estivera sempre bem perto deles. Mas não dissera nada daquilo. Ao invés disso, acenei com a cabeça. - Sim, está bem. - Drake também podia ser mais compreensível. Odiava quando se punha com aquele sério e com ultimatos.

Sem dizer mais nada, desviei o olhar do dela. Não tinha nada mais a dizer, pelo menos não naquela altura quando a maior vontade que tinha era de lhe tocar, de a beijar... Não. Olhei para o ferimento na minha perna. Era tolerável, conseguiria transformar-me, talvez. - Vamos sair daqui. 

Cruzei os braços ao peito. Ainda tinha que arrumar as minhas coisas e despedir-me de Kevin. Não podia sair assim, do nada. - Não. - olhei-o. Ele podia estar chateado, podia estar como bem quisesse, não me ia embora. - Não me vou embora, sem antes de tudo avisar o Kev. Ele é meu amigo.

Cerrei os dentes. A teimosia dela não era ideal nesta altura.
- Se não partirmos já, ainda há a hipótese de sermos apanhados pelos caçadores. Temos de partir agora.