Quarto do Vane

- Podemos arranjar uma solução para isso - ou assim esperava eu. - Se te mudares, vai ser mais difícil para o Vane ter estabilidade. Devemos-lhe isso. - ela devia-lhe, pensei.

Acabei por rasgar e esmagar todos os jornais, formando uma pequena bola de papel. - Está bem. - suspirei. - Mas eu vou continuar a dormir na tua cama. - ele sabia perfeitamente que eu adorava aquela cama. Não só por ter o seu cheiro, como também por ser mais confortável.

- Está bem. Mas eu também não vou abdicar da minha cama - respondi. Podíamos perfeitamente partilhá-la.

Fiz um sorriso torto e cocei o couro cabeludo. Não tinha problema nenhum, nem me importava, de a partilhar com ele. - Está bem.. - fiz uma careta. - Mas não ronques, se não atiro-te da cama a baixo!

- Eu? Roncar? Até parece... - por momentos a tensão entre nós os dois aliviou.

- Não a minha avó! - revirei os olhos. Sentei o pequenote no meu colo, mas virado para Drake. Beijei a sua face. - Diz ao papá que ele ronca, diz.. - o bebé parecia completamente perdido. Não percebia nada. - Não interessa, o Vane também o acha.

- Eu não ronco nada! - repliquei num tom convicto - E se roncar, problema teu.

- Sim, problema meu. - revirei os olhos. Mais valia continuar a procurar. Levantei e peguei no monte de papeis que ali estavam. Seguidamente, saí dali.

Eu estava só a brincar, também. Suspirei e peguei em Vane, começando a  brincar com ele.

Estava a fazer um espécie de avião com a papa de maçã de Vane. Ele ria-se às gargalhadas - agora diz pa...pá. Vá, Vane. Tu consegues - nas últimas semanas ele quase que começara a dizer a primeira palavra mas agora já não dizia nada sem ser "aua". Estava a tentar que ele disse pa ou papá.

Entrei na cozinha, depois de ter tudo preparado. Fui buscar qualquer coisa para comer e fiz uma sandes mista e uma salada de frutas. Depois segui para o quarto de Vane. Sentei-me e pus-me a olhar para o bebé.

Vane balbuciava sons non-sense. Estava visto que se entretinha mais a comer do que a falar. Ri-me e passei-lhe pedacinhos de maçã cortada.

Aquilo era tão, mas tão aborrecido.. Não tinha paciência para aquelas cenas.. - Oh por favor, deixa-te de merdas e despacha-te com isso. - revirei os olhos. Dei atenção à minha comida.

Olhei para Alina. Depois resolvi ignorá-la. Ela vinha com este ar todo depois de ter andado fugida durante três semanas? Please... - Vamos ver se gostas deste - disse, passando a Vane um pedaço pequeno de laranja. Nunca antes lhe tinha dado a provar aquele.

Ele agora ignorava-me? Pois não esperava pela demora. Deixei as minhas coisas de lado. Levantei-me a tirei-lhe bruscamente, a tigela e a comida que ele tinha na mão, vendo-as cair e desfazerem-se em pedacinhos, mal tocaram no chão. Vane começou a chorar, devido ao ruído.

A minha fúria elevou-se. - O que raios se passa contigo? - Gritei irritado. Tive de pegar em Vane ao colo e ver se o acalmava.

- O que raios se passa comigo? Tens a certeza que essa pergunta é dirigida a mim? - revirei os olhos. Ele é que me ignorava, que dava uma de magoado e tudo o mais. - Essa pergunta devia ser dirigida a ti, não a mim! - Peguei Vane ao colo e acalmei-o em poucos segundos.

- Estás a agir que nem ... nem sei! - Eu não queria gritar nem parecer zangado quando tinha Vane ao colo mas não consegui - O meu problema és tu. Tentaste suicidar-te, Alina. Porra! E depois desapareceste! - Eram essas coisas que me incomodavam.

- Oh e precisavas de me ignorar, fazer de conta que eu não existo? - acabei por ir colocar o bebé no berço. Depois virei-me para Drake. - Se eu tentei suicidar-me era porque não me sentia bem comigo mesma! Se eu fugi, era porque precisava de tempo para entender tudo isto! - ele não entendia?

Era mais fácil ignorá-la do que tê-la ali e não a poder ter da maneira que queria.  - Que tenhas fugido, eu entendo bem. Agora o suicidio?! Sabes o quanto me custou ver-te às portas da morte? Saber que preferes estar morta a estar comigo ou com o Vane!?

- Eu não prefiro estar morta a estar com vocês.. - caramba, ele não entendia nada do que eu dizia ou fazia. - Só não queria ser isto.. este monstro.. - esta coisa horrível em que me tornei. Ia aos poucos tentando aceitar aquilo tudo, mas era difícil e tinha a certeza que demoraria bastante tempo, até me sentir bem com o meu corpo e com todas estas transformações. - É bem diferente..

Cerrei os punhos. Aproximei-me dela num ápice, ficando a uma distância mínima dela - Odeias-te assim tanto? 

Olhei-o nos olhos.. Por uns momentos senti um calafrio na espinha. Engoli em seco. - Mais ou menos.. - aquele tempo todo sozinha, com Kevin, fizeram-me aceitar parte de mim. Pelo menos, eu tentava aceitar-me. - É complicado.

Eu queria tanto adaptar-me ao seu "é complicado". Mas estava sempre com receio que ela de repente mudasse e se fosse embora, ou voltasse a cometer suicido. Impelido por um misto de sentimentos, segurei o seu rosto e beijei-a.

Fui apanhada de surpresa. Esperava tudo, menos aquilo. Correspondi ao seu beijo, intensificando-o aos poucos e poucos. As minhas mãos deslizaram pelo seu peito e puxei-o pela camisola. Já fazia imenso tempo que necessitava daquele carinho.