Hospital

Quando acordei estava tudo enublado. A minha cabeça latejava a estava morrer de sede. Demorei algum tempo a perceber que estava deitado na maca do hospital.
- A cicatrização dele está a avançar muito depressa. Que raios? - perguntava-se a enfermeira destacada, olhando para a minha ficha médica.
- Onde é que está o meu filho? - perguntei num tom frio, sentando-me na maca e começando a arrancar os fios que tinha no meu braço.
- Senhor, acalma-se. Saiu da operação à pouco tempo, está no recobro. Não pode fazer isso.

Aquilo era muito estranho. De todas as vezes que as enfermeiras tentaram acalmar o bebé, nenhuma conseguiu. Fora dado inumeros beberões com diferentes tipos de leite, mas ele recusou todos. Começou a chorar ainda mais. Tomei-o nos meus braços e tentei acalmar o seu choro. Foi então que descobri uma coisa bastante surpreendente. O bebé praticamente se agarrou aos meus seios. Engoli em seco. Não sabia o que estava a acontecer, mas achava que aquilo era o correcto. Nada para mim fazia sentido, nem o facto de agora começar a achar que era mãe dele. Não me via a ter relações com o rapaz que desmaiara e muito menos a ter um filho com ele. Ele próprio tinha dito que não nos suportavamos, logo, não fazia mesmo sentido. Eu não entendia.

- Não quero saber destas coisas todas - levantei-me da maca. Tinha uma pijama do hospital vestido que ficava mesmo há minha medida. Ao menos não era uma daquela bata foleiras.
- Acalme-se! Ainda vai rebentar os pontos!
Mas já não a quis ouvir. Tinha de ver Vane, tinha de perceber se estava tudo bem com ele. Parei à frente da porta do quarto de Alina e abri a porta.

Era meio que contrangedor e algo embaraçoso, ver que o rapaz abrira a porta logo naquele momento. Mas mesmo assim não me importei muito. Voltei a dar atenção ao bebé.. - Ham.. eu sou mãe dele? - perguntei sem qualquer tipo de rodeios.

Merda. Aproximei-me em silêncio e fitei-a. Depois fitei Vane. Ele estava bem. Suspirei de alivio e voltei a olhar para Alina. Tina a palavras trancadas na garganta.

não entendo. ela deu de mamar ao puto ou está prestes a isso?

Olhei para o rapaz e seguidamente para o bebé. Esse, continuava agarrado aos meus seios, abrindo a boca seguidas vezes. - Então? - secalhar aquilo era tudo da minha imaginação.

epaa.. tanto faz.. pode tar pra mamar.. u_u

Aproximei-me e olhei para o pequeno. Tive que me apoiar ligeiramente na cama senão teria caído - Ele reconhece-te, meu deus - olhei novamente para ela - Não sabia se deveria contar-te uma vez que nem te lembras do teu próprio nome, mas sim, o Vane é teu filho.

Arregalei imenso os olhos e olhei para o rapaz. Aquele, bebé era meu? Se eu era mãe do Vane e ele era pai então.. - Nós tivemos alguma coisa? - olhei para ele, bastante constrangida. Não me lembrava nada daquilo. Nada, mas nada..

Era difícil responder àquilo. Será que tínhamos tido alguma coisa no passado? Era muito confuso para mim - O Vane é consequência de sexo irracional mas... - hum, ainda vou dizer merda...

- Ham.. mas?- agora sentia-me ainda mais confusa. - Mas, segundo tu, nós não nos suportamos.. ficamos assim depois de ele nascer?

Definitivamente não - A nossa história é um pouco mais complicada do que isso e já remonta há alguns meses atrás... - Disse, sem saber se ela e importaria de saber ou não.

- Ham... - fiz um ar confuso. Eu não me lembrava mesmo de toda a nossa história, mas se ele dizia, então eu acreditava. - Podes contar alguma coisa?

O que poderia eu dizer. Que tal começar do inicio? - Cheguei a Strange há quase um ano atrás e foste a primeira pessoa que conheci cá. Acho que nos tornámos amigos, os únicos de cada um - comecei por dizer e tentei compreender o que é que eu sentia com isso. Gostara eu dela? - Tirei-te a virgindade mas não foi algo a que desses muita importância. Uns meses mais tarde as coisas começaram a descambar, por vária razões e tive de me ir embora - continuei - quando voltei já não tínhamos grande amizade, mas mesmo assim insistias em passar o tempo todo comigo. Depois aconteceram umas coisas...

Será que ele não podia ir um pouco mais devagar? Estava-me a baralhar ainda mais.. Fiz uma careta, ao tentar raciocinar com todas aquelas informações novas. - Ham.. - exclamei. - Então nós já fomos amigos. Mas agora não nos curtimos.. - sim, era uma grande confusão. - Mas, então não deveriamos ter feito sexo, não é?

- Sim, coisa assim - respondi num tom cansado - Não devíamos ter tido sexo mas eu não estava em mim e tu facilitaste muito. Aconteceu simplesmente, não era nada suposto teres ficado grávida.

- Estavas bêbado? - perguntei, curiosa. Mas o que é que aquilo interessava para agora?! Abanei a cabeça e encostei-me na almofada. - E a minha família?

Não lembrava assim tão bem - Acho que não estava bêbado - respondi. Engoli a seco com a sua pergunta - A tua família é o Vane. Quando te conheci eras orfã - Não ia falar obre o resto da sua família. Recuava-me.

Acho que era demasiada informação para um só dia. Mesmo assim insistia em querer saber mais. Olhei para o bebé e sorri levemente. Podia ser orfã, mas pelo menos ainda o tinha. - Só mais uma coisa.. - olhei-o. - Como é que te chamas?

- Chamo-me Drake - respondi quase num murmúrio - E o nome completo do pequeno é Vane Levis Graham.

- Está bem, Drake. - acenti com a cabeça e voltei a olhar para o bebé. Vane.. Eu não desgostava de todo daquele nome. Até lhe achava engraçado. Alguns minutos depois, uma enfermeira apareceu, dizendo que Drake não podia, nem devia estar ali. E muito menos, um bebé.

Revirei os olhos face à enfermeira - Ainda tenho que arranjar leite nalgum lado deste hospital - suspirei, desagradado por ainda não o ter feito e pedi a Alina que mo passasse de volta.

- Porquê? - remexi-me o suficiente, para ficar com as pernas à chinês. Fiz uma careta e tentei passar o bebé para os braços de Drake. Mas com um braço lixado, não dava grande jeito.

- Porque ele está esfomeado e não te vou exigir que lhe dês de mamar. Provavelmente ainda estás em choque com isto tudo - disse e recebi de volta o pequeno nos meus braços. Este começou novamente a choramingar.

- Ham.. isso.. - Eu já nem sabia realmente, como me sentia. Eram tantas informações, mas tantas, tantas, que acabei por ficar mais confusa, do que em choque.. assim que o bebé começou a chorar semicerrei os olhos, face ao som alto de todos os seus berros.

- Shhh - murmurei para Vane. A verdade é que aqueles gritos dele cansavam-me porém, depois das últimas horas sem ele, era música para os meus ouvidos - Agora vou deixar-te descansar - disse para Alina e encaminhei-me para a porta.