Serra Strange

Fui até á serra, e trouxe comigo um pequeno lanche para passar lá um bom tempo.
Caminhei até achar um lugar bem alto para conseguir apreciar bem a vista da serra.
Pousei as minhas coisas e de seguida sentei-me numa pedra achatada e suspeirei, peguei uma sandes que tinha feito e comi-a.

Depois de muito caminhar pela floresta, de muito pensar, comecei a subir uma das montanhas que rodeavam Strange. O meu pai costumava levar-me a mim e à minha irmã para ali quando éramos mais novas. Durante anos tive medo de regressar sozinha, temendo que algo me acontecesse como lhes aconteceu a eles. Mas hoje não tinha medo de nada, ou de ninguém. Nunca devia ter saído de casa. pensei para mim própria, sentando-me numa rocha. Quem me dera que em vez de ter sido Ruby a desaparecer, tivesse sido eu.

Tinha saído de casa de manhã, depois de uma noite atribulada. Decidi aclamar os ânimos ao ir correr e assim fizera durante toda a manhã. Felizmente não havia humanos nas redondezas e por isso não tive de esconder a minha velocidade pouco natural.

Aproveitei o facto de a chuva ter parado, para sair dali. Ainda apanhei algumas gotículas de água pelo corpo, mas nada de muito preocupado. Tanto andei que acabei por parar num sítio qualquer. Nunca antes tinha estado ali, pelo menos, que me lembrasse.

Parei em cima de um dos rochedos do cimo da serra. Só tinha vestidos os meus calções largos. A camisola ficara encharcada em suor e de chuva logo na primeira hora. Sentei-me e tentei respirar calmamente, o que não era fácil depois de três horas em corrida.

Subi aquela porcaria sempre com grande difículdade. Tinha que admitir que eu para além de preguiçosa, não estava lá muito bem de forma. E depois aqueles rochedes eram tão.. grandes! Abanei a cabeça, de forma a que todos os cabelos molhados se afastassem das minhas costas. Aquilo incomodava-me.

Virei a cabeça devido a um barulho que incomodara a minha paz. Já em revirei os olhos ao ver Alina. Era sempre, sempre ela.

Continuei a andar até finalmente chegar ao topo. Vinha com ideia em espreguiçar-me e atirar-me para o chão, fazer coisas estúpidas e descansar, mas assim que chego ao cimo, dou-me de cara com Drake. - Hallo! - fiz a maior cara de parva.

- Hey - respondi pouco animado e virei-me novamente para a frente, para a vista onde a cidade de Strange se erguia.

Mostrei-lhe a língua, assim que ele se virou. Sentei-me numa pedra muito mais afastada da que a dele e tirei os sapatos, seguidamente as meias. Aproveitei e coloquei-as a secar em cima da rocha. Espreguicei-me e olhei para Drake, depois para a paisagem, depois para ele e assim sucessivamente.

Suspirei durante aquilo que me pareceram longos segundos.
- Posso fazer-te uma pergunta?

Cruzei as pernas à chinês e toquei na ponta dos meus pés. Olhei-o. - Hum.. eu acho que podes. - encolhi os ombros. - Pergunta..

Não me perdi em rodeios, fui direto ao assunto.
- O que queres de mim? I mean... estás sempre comigo, mata pessoas porque estão comigo, queres-me só para ti e depois... e depois isto, não me queres para nada de especial.

- O que quero de ti?
Fiz uma careta e ergui a sobrancelha.
- Sei lá eu o que quero de ti.. tenho que querer alguma coisa de ti?

- Claramente não gosto de andar aqui à toa, como um boneco qualquer que ten ao teu dispor - respondi num tom irritado.

Virei-me para ele de forma a puder visualiza-lo melhor. - Eu acho que não tenho que querer algo de ti. E só estás aqui à toa porque queres, acho.. - cocei a cabeça. - Além disso, eu gosto de ti e da tua companhia..

Abanei a cabeça, claramente frustrado.
- Isso é o mesmo que não me dizeres nada. Neste momento estou parado com a minha vida, Alina e isso vai acabar. Se continuarmos assim vou-me embora e não quero saber das consequências.

- E o que é que queres que te diga afinal? - revirei os olhos. Se ele queria ir tanto embora, então que fosse. Não ia fazer nada de mal a ninguém. O mais próximo era eu voltar para França, mas isso não interessava. - Estás parado com a tua vida? Por favor..

Levantei-me abruptamente. Devia ter percebido logo que não valia a pena fazer aquele jogo. Apenas ganhara tempo, ou perdera-o. Encolhi os ombros para mim mesmo - Então adeus, Alina - Virei costas e comecei a sair daqueles rochedos.

Adeus? Ele ia embora, assim sem mais nem menos? Levantei-me e apesar de estar descalça não me deixei abater para ir ter com ele. Comecei a caminhar, até alcançar o seu braço. - Vais embora? A sério? - abanei a cabeça. - O que é que tu queres afinal?

Continuei a andar, apesar da companhia de Alina.
- Pensei que queria uma coisa mas enganei-me - Tentei não pensar em tal coisa, para que o seu fantástico amigo imaginário lhe dissesse. Aliás, tinha feito isso durante todos este dias.

- Oh, enganaste-te mesmo, ou isso é só por dizer? - perguntei. Eu sinceramente já não me percebia e agora muito menos o percebia a ele.

- Pareço-te uma pessoa a querer perder tempo e a dizer coisas apenas por dizer? - Perguntei num tom irónico.

- Se queres que te seja sincera, pareces um totó. - fiz uma careta, não me deixando afectar pelo seu tom irónicamente estúpido. - Afinal pensaste que querias o quê?