Quarto do Vane

Entrei em casa e dirigi-me até àquela divisão. Estava com a porta trancada há imenso tempo, talvez mesmo desde o primeiro dia. Já não me lembrava.
Pousei os sacos com as tintas e ferramentas no chão e fui apenas trocar de roupa para pôr mãos ao trabalho.

Caminhei até ao destino daqueles barulhos estranhos. Nunca antes tinha estado naquela divisão da casa, pelo que olhei em redor, a cada passo que dava. Seguidamente, abri ligeiramente a porta e espreitei lá para dentro. Arregalei imenso os olhos. Que ele ia fazer, mesmo?, perguntei-me intrigada. Só esperava que aquilo não era o que eu estava a pensar.

Felizmente não havia nenhum problema com o quarto. Pelo menos nada que não se resolvesse. Teria de pintar as paredes, pôr um chão de madeira e fazer umas janelas mais bonitas. Mas fora o resto o quarto estava em bom estado.
Arregacei as mangas da camisa e abri a lata de tinta branca. Num caso como estes era uma cor que posteriormente não daria trabalho em remover. Pûs mãos ao trabalho e agarrei no pincel.

Continuei encostada à porta, olhando para cada movimento seu. Se aquilo era mesmo o que eu estava a pensar, então.. ele estava mesmo interessado no meu bebé, ou era impressão minha? - Porque é que te importas tanto? - perguntei.

Parei o que estava a fazer e olhei para trás, vendo-a encosta à ombreira da porta. Não queria dizer-lhe. Seu lhe dissesse que era o pai do seu bebé o mais provável era ela usar isso como triunfo e eu não estava disposto a isso. Ou, na pior das hipóteses simplesmente ia-se embora e cometia uma loucura - Não tenho nada de melhor para fazer, nem ninguém melhor com quem estar. Por isso dedicarei-me ao meu sobrinho. Já te disse.

Revirei os olhos. Uau, pela maneira de me sentir inferior. Mas eu sabia que ele me odiava, não me iria importar realmente contigo. - Eu não quero que o meu filho seja um estorvo e só para que saibas, amanhã vou procurar um lugar para morar. - encolhi os ombros. Não estava a suportar mais, ficar ali. E depois, eu sentia-me um encosto, inutil..

- Achas que eu me estaria a dar este trabalho se achasse que o teu filho é um estorvo? - Perguntei, de sobrolho erguido. Aproximei-me dela e olhei-a - Quero fazer isto, quero estar lá para o teu filho. Deixa-me ajudar-te. Fica aqui.

Não olhei directamente. Em vez disso, comecei a pensar naquilo tudo. Em todas as suas palavras. Em toda a sua dedicação pelo meu pequenote. O meu orgulho era demasiado alto e a minha teimosia também. Mas tens que pensar no teu filho.. - Está bem. Mas eu quero ajudar. Sinto-me inútil, sozinha nesta casa e odeio-te! - mostrei-lhe a língua. - Quero fazer alguma coisa..

Se era isto que tinha de dizer para a convencer a ficar então que fosse. Fui buscar um pincel, dos mais pequeno - Pinta a borda das janelas, que tal? - Disse, estendendo-lhe o pincel para a mão. Era uma tarefa fácil, que não lhe ia custar muito.

Olhei para o pincel, seguidamente para ele e novamente para o pincel. Acho que fiz aquele mesmo movimento, umas três vezes. Depois, mirei todas as janelas e fiz um largo sorriso. Peguei no pincel e fui buscar um pouco de tinta, começando a pintar aquelas tais bordas.

Entretanto acabei por pintar o resto da parede. acabei por me sujar de branco, arruinando a camisola e as calças. Tirei a t-shirt e descansei por meros segundos até recuperar os fôlegos. Ultimamente a minha energia não dava para nada. Que tal resolveres isso e comeres seu teimoso? Abanei a cabeça e continuei.

Eu acho que estava a pintar mais as janelas, do que propriamente, as suas bordas. Mas, sinceramente, eu já nem queria mais saber! Aquilo estava-me a irritar profundamente e para falar a verdade, estava esfomeada! Saí dali e dirigi-me até à cozinha, fazendo inumeras sandes para mim e talvez, alguma percentagem dividida para Drake. Nunca se sabe. Foi então, que quando voltei, já ele estava sem t-shirt. E sim, eu tive mesmo que ficar tomate, porque eu sou humana e sei ver o que é bom, quando é bom, portanto fodasse.. Ergui o tabuleiro e olhei-o. - Queres?

Não parei durante muito tempo - Não, obrigado - Respondi e voltei a focar-me na parede e na tinta branca - Andas mesmo com muito apetite, não é?

Por um lado ficar imensamente feliz por ele não querer nada. Assim ficava tudo para mim! Sentei-me no chão e tomei cuidado para não me encostar a nenhuma parede pintada. - Sim.. muito.. - Abanei a cabeça e comecei a comer.

Deduzia que aquilo era normal. Eu era lobo e estava sempre com fome. Menos ultimamente, pensei. Acabei de pintar a segunda parede e parei. Já estava a ficar escuro lá fora - Depois, se quiseres, podemos pintar as paredes de outra cor. Por enquanto não podemos escolher cores erradas.

Acabei de comer a minha sandes e abanei a cabeça. Depois continuei a comer. Olhei em redor, em redor e mais em redor. - Por mim, tanto me faz. Afinal, eu ainda nem sei o sexo do bebé! - fiz uma careta. - E acho que deixo isso para ti..

- Pois, bem me parecia - Respondi e dei por mim em pensar em como seria o bebé. Nunca antes pensara em tal coisa.

Continuei a comer, enquanto visualizava cada canto daquele quarto. Era espaçoso e agora branco, mais realçava isso. Encolhi os ombros. - Achas que vai ser menino ou menina? - perguntei. Não tinha nenhuma intenção naquela pergunta, só mesmo curiosidade.

Apanhei-me surpreendido pela sua pergunta.
- Não sei... hum, nunca pensei nisso. Mas acho que vai ser um rapaz - E eu bem gostaria que assim fosse.

- Pois eu quero que seja uma rapariga. E uma com o meu temperamento, só para te contrariar! - mostrei-lhe a língua. Olhei para a minha barriga e acariciei-a ao de leve. - Mas, acho que vai ser mesmo um rapaz. - fingi-me de aborrecida.

Esperava que assim não fosse. Não precisa mesmo nada de uma mini Alina por aí. Por falar nisso saí do quarto por uns momentos e quando voltei pousei dos livros no chão, perto dela - Ambos somos incultos em toda esta matéria da gravidez e como não vais ter acesso a um médico pensei... prontos, comprei esses livros.

Olhei para aquele pequeno monte de livros e seguidamente abri a boca, admirada. - Oh, obrigado. - pensei um pouco, naquela conversa do médico. - Pois.. um médico.. - e porque não? Até poderia ter! - Ham.. mas, certamente que tu também os vais ler né?!

Olhei para ela com uma expressão neutra - Não me parece, hum... - Não estava mesmo com um feeling para ler aquelas coisas - De qualquer maneira não vão ser grande ajuda, afinal de contas não é uma gravide normal.

Empurrei os livros para longe de mim. Cruzei os braços ao peito. - Então não quero isso para nada. - fiz uma careta. - E para que saibas, eu vou a um médico!