Café

Encolhi os ombros. Ele que gritasse o que lhe bem entendesse, mas eu não ia fugir e muito menos desistir. - Tenho os meus motivos que agora não vêm ao caso. - Semi cerrei os olhos. Sempre trouxera comigo um pequeno punhal, dado pelo meu pai, mas nunca me atrevera a utilizá-lo. Tirei-o do meu bolso e espetei-o no seu peito. - Aviso que dentro de poucos minutos, o veneno que ele contém vai-te paralisar não só os teus orgãos, como também o teu corpo todo.. portanto, ou vens comigo, ou adeus.

Engasguei-me com a repentina dor que sentia no peito. Cerrei os dentes e comecei a respirar depressa.
- Raios, estás a fazer isto em público. És assim tão estúpida? . - Nem encontrava palavra. Empurrei-a de perto de mim e pûs a mão no punhal, para o tirar - Prefiro dizer adeus.

- Achas mesmo que eu me importo se os outros observam isto? Eles sabem bem quem é o meu tio. Com sorte ainda te dão um pontapé no cu. - revirei os olhos. - Então adeus. Só te aconselho a não o tirares...

- Então está bem, se eu me transformar aqui e agora então não devo importar de me atiro a ti ou não.
Fechei os olhos e inspirei fundo, mas a dor continuava. Maldita fosse. - Acho que já não quero saber dos teus conselhos - Rosnei e de seguida tirei o punhal.

- Tu também nunca quiseste saber dos meus conselhos! Faz lá o que bem entenderes. - suspirei. Ele devia ser mais idiota do que eu pensava. Pois que morresse, também já não me importava.. - Tu és mesmo casmurro!

Suspirei, enervado. Tinha de chegar a casa, acontecesse o que acontecesse. - Agora a sério? Estás a tentar matar-me... - Por alguma razão não queria achar que era demasiado idiota por não ter pensado em tal coisa. Atirei o punhal para o chão. Raios, não me estava a sentir nada bem.

Coloquei um sorriso nos lábios e olhei-o. - Não. Eu apenas quero-te ajudar, só que tu, não deixas! - abanei a cabeça. - E se continuares a ser casmurro, nem te transformar vais conseguir fazer..

- E apunhalares-me é suposto ser uma ajuda?!
Sorri amargamente, mais para mim próprio do que para ela.
- Não me ajudes mais. Não preciso deste tipo de ajuda - Resfoleguei e tentei mexer-me. Se conseguisse chegar a casa ainda podia ter acesso ao antídoto.

- Se eu não fizesse nada, tu não ias aceitar na mesma! - resmunguei. Bem, não queria saber se ele aceitava ou não. - Tu cala-te, que eu quero lá saber disso. - Peguei na sua mão e arrastei-o até casa.

Entrei no café e fiz um sorriso amável ao empregado, que já me conhecia bastante bem. Pedi o costume - um capuccino e um queque de chocolate - e sentei-me à espera do pedido.

Tinha vindo a correr de casa até ao café. Precisava de uma cerveja. Precisava de espairecer. Sem contar com aquilo, tropecei nos meus próprios atacadores e acabei por embater na mesa de uma rapariga, deitando tudo ao chão. Cocei a cabeça atrapalhada. - Desculpa, desculpa.. sou tão desastrada.

Nem me apercebi o que acontecera até ter sentindo um calor nas minhas pernas. Quando olhei tinha café derramado em cima das minhas calças. - Não há problema. - ri-me limpando-as com um guardanapo.

O empregado do café já arrumava os cacos caídos no chão. Tentei ajuda-lo, mas ele impediu-me e com um sorriso, agradeceu. Era melhor eu ficar quieta. - Desculpa.. - voltei a repetir. - Para compensar essas tuas calças sujas, acho que te pago um café novo.

Abanei a cabeça, recursando a oferta, e sorri - Deixa estar, já estava no fim e faz-me mal. - agradeci e estendi o braço - Sou a Jade, e tu? - apresentei-me.

- Sou a Alina. - sorri abertamente e sentei-me na cadeira ao lado da sua. Baixei-me de forma a puxer atar os meus atacadores e pedi ao empregado que me trouxesse um leite com chocolate. - E então, és nova por cá?

Revirei os olhos. Ultimamente só me perguntavam aquilo. Teria eu andado solitária por assim tanto tempo? - Não, vivo cá desde sempre. - respondi. - E tu?

- Vivo cá desde quase sempre.. - olhei-a confusa. - Que estranho, eu nunca te tinha visto por aqui. - Se bem que tu nunca vês quase ninguém.. Revirei os olhos.

Soltei uma gargalhada, um pouco forçada, talvez - Eu não saio de casa muitas vezes... - confessei baixinho, procurando evitar olhar para ela.

- Pois.. deve ser isso. - assim que o empregado trouxe o meu leite de chocolate, apressei-me a tomá-lo. Levantei-me e fui até à bancada do café e paguei. Depois voltei. - Bem.. eu vou ter que me ir embora. Mas, eu não quero que fiques aí com as calças todas sujas e eu sem puder fazer nada. - tirei uma caneta do bolso e escrevi o meu número. - Quando quiseres combinar algo e quiseres fazer alguma estupidez, liga-me. - ri-me e saí dali.

Acabei de comer o meu queque noutra mesa e recebi o papel da Alina - Obrigada, até à proxima - despedi-me e quando acabei de comer, pousei o dinheiro na mesa, voltando até casa.

Antes de me encontrar com Lana decidira que não podia passar sem um café, pelo menos. Continuava cansado e precisava de parar um bocadinho. Fiz o meu pedido e sentei-me numa das mesas.

Entrei no café, que ainda estava mais vazio que há bocado, e pedi um descafeinado. O empregado soltou uma gargalhada e entregou-me, com uma cara como quem diz 'cuidado desta vez'.Sorri e olhei para as mesas. Exactamente naquela que eu costumava sentar-me estava o único cliente do café, por isso caminhei até à mesa mais próxima. Mas, com a 'sorte que estava do meu lado' acabei por tropeçar e cair mesmo junto à mesa, abanando-a e deixando cair o café que estava em cima desta para cima do rapaz. - Ups, desculpa! - apressei-me a pedir. Algo se passava naquele dia, definitivamente.

Controlei-me antes de resmungar demasiado alto. Mas não deixara de ficar irritado. Olhei para a rapariga e acalmei-me, percebendo que fora só um acidente - Hum, está tudo bem - Murmurei, limpando o que pouco que ainda podia ser salvo das calças.

Queria rir-me daquela situação, conseguindo imaginar-me no lugar do rapaz apenas há algumas horas atrás, mas quando percebi que o humor dele não era como o meu e em vez de se rir ficou chateado, voltei a colocar a minha cara séria em questão - Deixa-me pagar-te um novo... - disse, repetindo o que Alina tinha dito também ainda naquela manhã.

Encolhi os ombros e voltei a fitá-la - Acho que vou aceitar - Normalmente não o fazia, mas estava mesmo, mesmo a precisar de cafeína. Antes que ela voltasse com o café, suavizei a minha expressão, relembrando-me que nem toda a gente devia levar com o meu humor de lobo por tabela.