Quarto dos Phillips

O único local que eu me sentia realmente em segurança, era no quarto dos meus pais. Escondi-me dentro do armário da roupa e sentei-me, agarrada aos meus joelhos. Ouvi um barulho e estremeci. Olhei pela brecha do armário e a minha respiração parou ao ver um caçador a abrir a janela do quarto. Vi-o a rondar os sítios naquele quarto, fiquei quieta e reti a respiração. Quando o vi desaparecer da minha vista, suspirei aliviada. Foi então que a porta abriu-se e ele puxou-me, atirando-me contra a parede.. - Pensavas que era mais esperta que eu? - gargalhou. Agarrei-me à minha barriga, mal ele se aproximou de mim.

Eu tentava de tudo para me esquivar, mas não podia usar o meu poder. Não queria prejudicar a bebé.. por outro lado, estava-me a sentir cada vez mais fraca, cansada. Assim que ele me voltou a apanhar, agarrou-me pelos pulsos e mirou-me com um sorriso sacana nos lábios. Tentei soltar-me novamente, remexer-me até não puder mais. Até que senti qualquer coisa a perfurar a minha barriga. Senti um líquido dentro de mim e fui largada num canto, assim que comecei a gemer de dores. Agarrei-me à barriga e comecei a gritar.

Não tinha tempo para pensar. Corri contra o homem e agarrei nele. Mandei-o com tanta força contra a parede que o fiz perder os sentidos. Esmurrei-o até ter a certeza que ele não acordava tão cedo. Depois fui para a beira de Alina - Meu deus... - não reagi, não consegui.

Mordi o lábio com força e tentei suster as lágrimas. Não fazia a ideia do que é que o homem colocara dentro do meu corpo, mas ardia, imenso.. Cada vez mais sentia uma enorme dor. O meu corpo começou a tremer vagamente. Foi então que senti um líquido a escorrer-me pelas espernas e comecei a entrar em pânico. - Dra.. ke.. - engoli em seco. - Drake.. acho.. acho que coise..

Demorei alguns segundos a interiorizar as suas palavras. Não podia ser, não agora. Merda. Ainda havia caçadores consciente lá em baixo, ainda havia uma série de perigos e... caramba, não estava preparado para aquilo! - Tens a certeza? Alina...

Eu sentia-me a rasgar por dentro. O meu corpo começou a ficar dormente, a merda do líquido estava a começar a fazer efeito. - Eu.. eu.. re..bentaram-me as águas.. - inspirei fundo. - ..achas que não tenho a certeza?! - disse com grande dificuldade.

Preferia que não fosse verdade. Olhei para ela, desta vez mais recomposto. Não me podia passar com aquilo tudo - Está bem, chegou a hora - E eu nunca imaginara que aquilo fosse acontecer assim, ali - Toalhas, precisamos de toalhas - Levantei-me rapidamente e fui buscá-las.

Eu ainda não queria acreditar que aquilo estava mesmo a acontecer. Olhei para Drake de olhos arregalados.Eu ia parir mesmo ali não era? Oh, Gosh.. Estava a começar a ficar extremamente nervosa.

Acabara por trazer todas as toalhas que encontrara. Pousei-as em cima da cama e depois agarrei no corpo inerte do homem e pu-lo fora do quarto. Rosnei de raiva, aquilo era culpa dele.
Engoli a seco e voltei para ao pé dele. Não sei porquê mas instintivamente agarrei na mão de Alina, apertando-a - desculpa não o ter conseguido impedir.

Naquele momento eu já não estava em condições para me mexer. Só sentia dores, atrás de dores. E fortes, bastantes até. Apertei a sua mão e mordi o lábio. - não.. não faz mal. - semicerrei os olhos. - ajuda-me a ir até à cama.

Podia ver a sua agonia pura e não podia fazer nada para a ajudar. Era horrível. Não me limitei a ajudar. Peguei nela ao colo apesar de não ser tarefa fácil e pousei-a na cama. Engoli a seco ao sentir a dor no meu braço - Tenho de ser honesto, não faça a mínima ideia do que é suposto fazer nestas alturas.

Não havia tempo para hospitais, eu bem sabia.. Assim que ele me colocou em cima da cama, pude reparar no seu braço. Engoli em seco. - Eu também não sei nada.. - olhei-o assustada.

Pensa positivo, pensa positivo, pensa positivo. Mesmo assim fitei-a e escolhi algumas palavras que nos pudessem tranquilizar - Vamos safar-nos, vais ver... E daqui a nada já teremos a bebé connosco e vai tudo correr bem.

Todas aquelas palavras me deram um pouco de ânimo, mas mesmo assim não conseguia deixar de pensar no que poderia acontecer, caso alguma coisa corresse mal. Respirei fundo. Agora era tempo de fazer força. Procurei a sua mão e apertei-a.

Aquela cena parecia saída de um filme. Só queria apoiá-la, fazê-la entender que estaria ali para o que ela precisasse. Podia sentir a sua pele quente, tão quente como a minha. Com a minha mão livre puxei uma tolha pequena e com o pensamento molhei-a. Depois passei pela rosto de Alina, que começava a ganhar uma tonalidade avermelhada.

Eu estava a ficar cada mais atordoada. Mas eu sabia que não podia desistir, não agora.. Parei para puder respirar um pouco e recomecei a fazer força. Gritei, cravei as minhas unhas na sua mão.. foi então que ouvi passos bruscos e as vozes dos caçadores, pelos corredores.

Mordi o lábio. Ela estava a apertar demasiado a minha mão e quase que podia sentir os meus ossos prestes a vacilarem. Contudo não disse nada, não me permiti a reclamar. Até ouvir passos no corredor - Eu trato deles, faz o que tiveres a fazer. - Soltei-me da sua mão e saí porta fora.

Oh meu Deus.. Afundei a minha cabeça na cama e cerrei os olhos com força. Cada vez mais me custava fazer o que quer que fosse e podia jurar, que estava a perder imenso sangue. Mas eu sabia que faltava pouco, eu senti-a.

Eram apenas dois, os dois que eu não matara. Desviei-me dos seus golpes e esmurrei o primeiro que apareceu à minha frente. Recebei um pontapé do outro mas mantive-me firme. Não podia vacilar. Estava com um intenso instinto protector de lobo e nada, mas nada mesmo, ia pôr novamente Alina em risco. Rosnei de fúria e parti o pescoço ao primeiro e sufoquei o outro. Não havia tempo para remorsos. Entrei rapidamente no quarto, novamente e pûs-me à beira de Alina - Estás segura, está tudo bem...

Doia tanto, mas tanto.. O facto era, que eu me sentia segura. Apertei os lençois da cama e fiz um esforço, um último esforço.. Depois descaí na cama e respirei fundo.

O meu coração caiu assim que agarrei no bebé acabado de nascer. Oh meu deus, oh meu deus. O choro que se ouvia era um alivio. Olhei para ele e por momentos o mundo parecia que tinha desabado, só havia aquele bebé e eu. Sangue do meu sangue. Fiz um sorriso rasgado ao ver a marca de meia-lua que tinha na sua pequena mãozinha, o sinal de nascença igual ao meu. mas não era Grace nenhuma, era um rapazinho lindo. Olhei para Alina e passei-lho com cuidado - É um rapaz Alina! Vane... - Sentia o peito inchado de orgulho e emoção.

Teria-me mexido ou até mesmo dado um pequeno sorriso, se o meu corpo o tivesse permitido. As minhas energias estavam completamente esgotadas, o meu corpo dormente, mas estava contente por aquele feito. O bebé era lindo..
Senti o batimento do meu coração diminuir e em poucos segundos, apaguei por completo.

Oh não. Merda! O mais rápido e delicadamente que pude, enrolei Vane na tolha macia. Tive que o pousar em cima da cama e com as réstias de energia que tinha, pus um escudo protetor de água à sua volta. Depois virei-me para Alina e percebi que o seu pulso estava fraco, muito fraco. Pûs a minha sob o seu peito e comecei a massagem taquicardia - Não acaba assim.. Alina, caramba!

No meu ''sonho'' eu caminhava por um sítio completamente branco e cheio de luz. Encontrava os meus pais, tal e qual como eu me lembrava deles. Tentei alcançá-los várias vezes, mas parecia impossível ou coisa parecida. Foi então, que me senti a ser sugada para uma outra dimensão. Abri os olhos e reparei em Drake. Tossi.. Sentia-me fraca..