Wyoming

Voltei para o mesmo sítio de sempre. O telhado. O lado da janela do quarto, onde Vane dormia. Este já estava completamente ferrado de sono.

À medida que ia lendo o diário é que percebia realmente quem o meu avô fora. Infelizmente só escrevera durante dois anos, os anos em que conhecera a minha avó.

O outro Vane fazia-me companhia em momentos semelhantes àqueles. Quando eu estava sozinha, triste, confusa e sem nada em concreto em que pensar. De certa forma, o tempo passava mais rápido, assim.

A minha cabeça estava uma confusão tremenda.
Fui até ao quarto de Vane ver como ele estava. Da janela vi Alina.

Eu não falava tanto quanto o habitual. Não tinha grande vontade. Olhei para trás, quando senti uma presença no quarto de Vane e mirei Drake. Encolhi os ombros e voltei a virar-me.

Abri a janela e acabei por sair, até me sentar ao lado dela. Não disse nada durante vários minutos.
- Love forever - murmurei - É tudo o que o meu avô associava à minha avó. Foi isso que ele escreveu na lápide.

Afastei-me ligeiramente dele. Apesar de ainda o amar, a sua presença incomodava-me, de certa forma. - Hum.. - encolhi os ombros. - Então o teu avô amava a tua avó? Pensei que fosse um mulherengo. - fiz uma careta.

- E era... até a conhecer. - murmurei, lembrando-me das palavras que lera no diário - pelo que li a relação deles era algo único, como um elo eterno. Ele soube isso desde o primeiro momento,

Podia não demonstrar, mas estava atenta a tudo o que ele dizia.
E formavam-se-me tantas perguntas. - Ela era humana?

Assenti com a cabeça. Ia dizer tão humana como tu eras, mas seria mentira. Alina sempre tivera o quê de diferente. - sim, era.

Mordi o meu lábio inferior e olhei para as minhas mãos. Eu também fora humana.
- Ela morreu certo? Quer dizer, morreu humana.. - encolhi os ombros.

- Sim. Morreu quando deu à luz o meu pai.
Ao contrário de mim, o meu avô não conseguira salvar a sua parceira.

- Oh.. - apoiei o meu queixo nos joelhos. Aquilo fizera-me lembrar, o dia do nascimento de Vane. Se não fosse Drake, tinha a certeza que agora não estava ali.

Ficámos em silêncio por momentos. Apenas por distracção comecei a fazer aparecer pequenas chamas na minha mão.

Era triste imaginar uma coisa daquelas. Mas mesmo assim, não explicava o facto de eu ser tão parecida com a avó dele. Fiquei completamente sem saber o que dizer. Também não me importava com o silêncio. Olhei para ele, para o que ele fazia.

Fechei a mão, contendo a chama dentro dela.
- O que é que sabes sobre os teus antepassados?

- Nunca pesquisei nada sobre eles.. - por incrível que parecesse, nunca me interessara por eles. Afinal, eu com tantas espécies diferentes no nosso mundo, haviam coisas bem mais fascinantes de se ler e aprender. - Por quê?

- Talvez seja aí a conexão, o porquê se seres parecida à minha avó e porquê que o meu avô te aparece - tinha de haver uma explicação.

- Hum.. - ele provavelmente tinha razão. Mas não havia muito que pudesse descobrir.
Eu ardera com a minha casa toda. Não restara praticamente nada.

- tem de haver uma forma de descobrirmos - tinha de haver. J´revira os registos do meu avô mas não encontrara nada.

- Para que é que isto nos há-de servir? Não importa. - revirei os olhos. Estávamos separados. Ele traíra-me, eu fugira. Ambos tínhamos quebrado as nossas promessas.

- Importa para mim - disse entre dentes cerrados. Tinha de entender o que é que o destino nos reservara.

- E o que é isso me importa? - olhei para ele.
Não queria discutir, mas se fosse preciso, faria-o.

- A ti, nada. Mas eu vou descobrir - cerrei os punhos e saí do telhado. Entrei em casa.

Revirei os olhos. Ele lá sabia o que fazia.
Quanto a mim, achava melhor esquecer aquele assunto.