Convento

Assim que chegara ao convento, já a notícia de um morto naquela casa, era anunciado. Tinha feito o suficiente para que aquilo pudesse enganar todos e que todo o sangue, cheiro e semelhanças, fosse tudo dado de mim. Queria ser dado como morta, desaparecer e esquecer tudo o que me amaldiçoava por uns momentos. Claro que não me esquecera que tinha Vane, um filho para criar, mas essencialmente, não me esquecera da vingança que tinha para com Drake.
Olhei em redor e mirei por uns momentos aquele convento. Era velho, antigo e assustador. Uma senhora de certa idade, foi até mim e cumprimentou-me com um belo sorriso. Tentei retribuir o mesmo e seguimos até lá para dentro. Ela ia dar-me a conhecer aquele sítio e depressa o fez. Falou-me das regras muito por alto e seguidamente indicou-me o meu quarto e a minha roupa. Assim que me vi livre daquilo tudo, atirei as malas para o chão e tranquei a porta. Eu ia ficar ali, não sabia por quanto tempo. Suspirei. Atirei-me para cima da cama e peguei na roupa que ali estava. Queria-me parecer que aquilo era pior que o manicômio de Lyon.

Naquele convento apenas havia uma só televisão. Esta num corredor velho, que dava acesso para quem quisesse falar com a madre superior. Para que o meu plano fizesse efeito, esperei que acabassem com todo aquele alarido e no momento exato, em que tiravam o corpo completamente tapado, pensei em Vane e com um pouco de esforço, indiquei uma pequena dor ao bebé. Sabia que aquilo seria o suficiente para não o magoar muito. Iria chorar, remexer-se e berrar durante algumas horas. Depois quando parei, corri rapidamente até à casa de banho e cuspi sangue. Aquela brincadeira de Drake tinha tido os seus efeitos e depois a bala, não ajudara em nada.

Ficara a noite toda a tentar destabilizar o bebé. Não lhe provocava dor, apenas o incomodo suficiente para que ele chorasse e lhe levasse a entender, que de alguma maneira, eu tinha morrido..


Aquele convento não era a melhor coisa que existia no mundo, mas lá me habituara a todas as suas coisas, regras e regalias. Pelo menos, sempre era melhor que o manicômio de Lyon, pensei. Não tinha que tomar medicamentos e outras coisas que só me faziam ficar enjoada e completamente calma. Durante aqueles meses, a minha sede de vingança tinha vindo a diminuir, mas nunca desaparecera realmente. Estava na altura de dar a cara. Treinara durante aquele tempo todo. Tinha lido todos os apontamentos, cadernos de família e praticado nas minhas horas de descanso. Sentia-me muito mais forte e tinha a perfeita noção, que o meu poder tinha ficado mais forte, assim como tudo o resto.
A verdade era, que nunca tinha saído realmente daquele convento, desde que entrara ali. Uma coisa era certa, as freiras até comentavam, o porque de nunca sair, quando era permitido, dias e dias, de descanso fora daquele sítio. Agora, seria a primeira vez que ia usufruir daquele direito..

Não ia ficar muito tempo fora daquele convento, disso não tinha dúvidas. Fiz apenas uma pequena mala, com algumas mudas de roupa, alguns livros e principalmente, um terço. Não é que me habituasse a ser uma santa e blablabla, mas agora que era freira, mais valia respeitar a coisa. Quando dei o primeiro passo, inspirei fundo e olhei em redor. O sol queimava a minha pele, como se fosse a coisa mais natural do mundo. Os cheiros eram completamente diferente e aquilo.. aquilo tinha tido as suas mudanças construtivas.. Não apanhei nenhum táxi, preferi chegar a Strange, pelo meu próprio pé.

Eu passara a manhã quase toda, enfiada naquele convento. Não porque não me deixavam sair, mas sim porque a maioria do tempo só conversava com a madre superior. Quando finalmente ela me deixou ir, dirigi-me calmamente até ao sítio, onde antes era o meu quarto e calmamente fui arrumando as coisas. Não era nada de especial, mas era o essencial e as coisas importantes que eu tinha salvo, naquelas duas malas, no dia do incêndio. Acabei por terminar aquilo, para lá do almoço, quase à tarde, bem escurecida.. suspirei e caminhei até à saída do convento. Olhei para ele mais uma vez. Eu sabia que ia ter vontade de voltar para ali e provavelmente, até iria ter as mesmas rotinas que ali tinha.. mas, eu tinha que tentar, pelo menos pelo Vane, ser uma mãe..
Coloquei as malas no táxi e indiquei-lhe a morada.