Os dias tinham passado num piscar de olhos, e provavelmente só saíra de casa uma vez para levar a minha gata ao veterinário. O ar que respirava no interior da casa cheirava a mofo e a minha cabeça começava a ter dores, mas visto não querer sair daquele perímetro, simplesmente decidi caminhar de pijama pelos jardins de minha casa. Costumava ir lá com a minha irmã - na verdade, eu ia a tudo o que era sítio com ela-, para jogarmos à apanhada. Pergunto-me o que teria acontecido se naquele dia em vez de brincarmos às escondidas estivéssemos ali. A minha teoria era que ou estaríamos aqui as duas, ou não estaria nenhuma. O que seria melhor do que aconteceu. Seria melhor do que ficar eu sozinha, sem fazer nada em parte nenhuma. Mas o que poderia eu fazer? Sim, é claro que o suicídio já me passara pela cabeça, diversas vezes até, mas no final.. pensava no que Ruby faria. E era nesses momentos que saía de casa, conhecia gente, e magoava-me outra vez, regressando a casa. Era um ciclo vicioso. E era o caso naquele momento... Derek ainda me passava pela cabeça. Passava? Ele estava constantemente nos meus pensamentos. Mas tanto ele como eu tínhamos deixado bastante claro que não iria haver mais... mais nada. A simples palavra "nada" dava-me arrepios. No entanto, não havia mais lágrimas. Talvez porque o tempo estivesse mais seco e eu não me hidratasse tanto, ou talvez pela razão mais óbvia, os olhos já estavam fartos de lacrimejar ao fim de tantos anos. Estava na altura de (tentar) ser feliz. Não? Sim? Oh, vida.