Quando a porta se abriu novamente já era noite cerrada. Ainda não sentia a minha forma animal de volta mas sabia que não devia tentar transformar-me. Não por agora. Uma mulher com uma aparência jovial apareceu sozinha. Era alta, esbelta e morena. O seu cabelo era loiro com suaves nuances castanhas e tinha olhos grandes, cinzentos e avaliadores. Demorou um pouco a chegar até mim. Oh Sim, ela era bonita e imponente.
- Drake, é esse o teu nome.
Eu olhei para ela, desorientado. Como é que ela sabia o meu nome? Ainda não o dissera a ninguém.
- Não é preciso grande esforço para perceber que és filho do Ray. Vocês os dois são idênticos - a mão dela tocou na minha face. Estava fria, muito fria.O seu olhar era penetrante, frio.
- És estranho. Não cheiras a lobo nem a humano. O que és tu?
Boa pergunta, pensei. E o que era ela também? Loba não podia ser, era demasiado fria para tal. Podia perceber que ela estava bastante intrigada.
- E tu o que és?
- Uma feiticeira. Uma poderosa feiticeira que arruinaste - a sua expressão mudou por completo. Os seus olhos raivam de fúria mas mesmo assim ela estava a conter-se. Senti as suas unhas cravarem-se no meu pescoço, fazendo uma pequena ferida aparecer. - Não saras depressa. Não és lobo. Mas não podes ser feiticeiro, não... - ela deu um passo atrás, claramente horrorizada.
- Quem és tu? - Perguntei, já não entendendo nada de nada. Um sorriso cínico apareceu no seu rosto enquanto ela murmurava numa voz sibilante - Sou a tua mãe, Levis. É uma pena não saíres a mim, escusavas de me obrigar a isto...
Ela parecia contente, divertida até. Tirou uma adaga da manga do vestido e apontou-a para mim. Fiquei hirto, sem reagir. Aquela era a minha mãe? Raios.
Senti a lâmina rasgar-me um pouco da pele e foi nesse preciso instante que reuni todas as minhas energias e me transformei, partindo as amarras. Olhei para ela e rosnei mas cedi ao impulso de a matar, ali e agora.
Ela estava admirada, podia perceber que ela não acreditara verdadeiramente que eu era um lobo. A adaga na sua mão começou a tremeluzir e um sorriso malicioso apareceu nos seus lábios. Tentei mover-me contra ela mas não consegui. A minha mãe veio na minha direcção – Até em lobo és parecido a ele, nojento animal – a adaga estava muito perto de mim e eu não me conseguia mexer. Senti a sua lâmina começar a perfurar a minha pele e eu continuava sem me conseguir mexer. Foi então que surgiu um enorme lobo castanho que a derrubou. A minha mãe caiu inconsciente no chão.
O lobo passou a forma humana e fiquei admirado por ver que era Ray. Apressou-se a afastar a adaga de mim – Tens de te ir embora, Drake. Vai antes que ela acorde – Eu fiquei ali sem sabe o que fazer. Corri para fora do armazém e esperei para ver se mais alguém vinha. Surgi a minha forma humana ao avistá-lo.
- Mas o que é que se passa aqui?
Ele continuou a caminhar para dentro da floresta. Segui-o.
- Mais ao menos daqui a dois quilómetros, se fores por este caminho, encontras uma villa. Aqui tens algum dinheiro – Deu-me um envelope amarelo, gasto e algo cheio. Depois olhou para mim. Os seus olhos azuis brilhavam, seriam lágrimas? – Não temos tempo para falar agora, por muito que gostasse de tal. Não espero que entendas o que se está aqui a passar. Entende apenas uma coisa: afasta-te da tua mãe. Tudo isto começou com ela, quando tu nasceste. Ela enfraqueceu e só contigo morto é que os seus poderes são restituídos. Isso não pode acontecer.
Arregalei os olhos. Aquilo era muito para absorver.
- E o meu avô?
O meu pai suspirou – Não a consegui deter, em tempos eu fui devoto á tua mãe. Outra coisa que não espero que compreendas – Agarrou na minha mão, onde estava o sinal de nascença – És um lobo fenomenal, filho. Tenho a certeza que o teu avô estava muito orgulhoso – E dito isto transformou-se num grande lobo castanho novamente e eu vi-me sozinho na floresta.